1082: Dezenas de peixes aparecem mortos na foz de ribeira em Armação de Pêra
“Isto é um autêntico crime público, já que não há limpeza na ribeira, que continua completamente ao abandono, com águas contaminadas”, queixa-se um profissional de pesca. A Administração da Região Hidrográfica recolheu água para análise e espera conhecer, hoje, os resultados, a fim de tomar medidas.
Desde domingo, dezenas de peixes, nomeadamente linguados, taínhas, sargos, enguias, douradas e robalos, apareceram mortos na foz da ribeira de Alcantarilha, situada no lado nascente da praia dos Pescadores, em Armação de Pêra, no concelho de Silves, em consequência da falta de oxigenação nas águas.
A situação, noticiada ontem pelo «Correio da Manhã», não é nova, já que se repete, sobretudo, desde há cinco anos e com maior incidência quando o calor aperta durante o Verão.
Agora, e uma vez mais, pescadores e autarcas anseiam por uma solução imediata. O problema está a ser “avaliado” pela Administração da Região Hidrográfica (ARH), disse ao barlavento.online o seu vice-presidente Paulo Cruz, depois de terem sido efetuadas, na segunda-feira, recolhas de amostras de água para análise laboratorial.
Hoje, os resultados deverão ser conhecidos.
Para já, os prejuízos são grandes para a comunidade piscatória, que conta com cerca de três dezenas de embarcações, e que tem na foz da ribeira de Alcantarilha um verdadeiro viveiro de peixes. Mas não só.
“A situação envolve muita coisa, pois além da mortandade de peixes há o fator humano. Isto é um autêntico crime público, já que não há limpeza no rio, que continua completamente ao abandono, com águas contaminadas e até já vi crianças aqui a tomar banho, sem que exista qualquer sinalização de perigo”, contou ao barlavento.online Orlando Mascarenhas, de 49 anos.
Enquanto, revoltado, olhava para os peixes mortos e outros em agonia, recordou os tempos em que a ribeira de Alcantarilha era fértil em espécies e alimentava muita gente.
“Antigamente, este rio era o sustento de muitos pescadores quando chovia, pois chegávamos a capturar entre cem e trezentos quilos de espécies por ano. Mas, na última década, isso desapareceu”.
Tânia Oliveira, sua mulher e também profissional de pesca, aproveitou para se queixar que o problema da mortandade de peixes se verifica ali “três ou quatro vezes por ano, sem que sejam tomadas quaisquer medidas”.
“Este sítio é uma maternidade, mas devido ao problema da falta de uma abertura para o mar para escoar a água, agora há peixes a morrer e mosquitos por todo o lado. Isto é mais frequente no Verão, como toda a gente sabe com antecedência”, lamentou Tânia Oliveira.
Indignado está também o presidente da Junta de Freguesia de Armação de Pêra Fernando Santiago, para quem a solução para aquela ribeira passará pelo seu desassoreamento, bem como pela construção de um porto de abrigo para os pescadores na sua foz, de forma a garantir uma ligação permanente ao mar.
“Tenho alertado muitas vezes as entidades responsáveis para o problema da ribeira, mas continua tudo na mesma. Na segunda-feira, vi 30 ou 40 peixes mortos e mosquitos à volta”, notou Fernando Santiago.
E defendendo dragagens na ribeira, recordou que o desassoreamento não é efetuado “desde o tempo de Oliveira Salazar, há mais de 50 anos”.
“Noutros tempos, havia aqui pessoal a trabalhar com picaretas e pás”. Agora, tudo é diferente. “No Verão, são os peixes a morrer e no Inverno existe o perigo de inundações”, avisou o autarca.
Por isso, e juntando a sua voz à de pescadores, apelou à ARH no sentido de ser aberta uma ligação da ribeira ao mar, de forma a libertar as águas.
A ARH não exclui tal possibilidade caso a situação se agrave. Contudo, sublinhou o vice-presdidente Paulo Cruz, “há que ponderar e avaliar a extensão da mortandade de peixes, pois poderá haver risco para a saúde pública em zonas balneares se for, entretanto, aberta uma ligação para o mar. Aguardo mais elementos para serem tomadas decisões”.
A proliferação de algas na ribeira consumiu oxigénio, contribuindo para a asfixia de peixes, ao mesmo tempo que deixou á água verde escura.
Aquele responsável referiu que o problema existente na foz da ribeira de Alcantarilha é uma “situação similar” ao que tem ocorrido na Lagoa dos Salgados, situada entre os concelhos de Silves e de Albufeira, e na lagoa existente na zona da praia do Cavalo Preto, em Quarteira, no concelho Loulé.
Sobre o facto de serem vistas crianças a tomar banho na foz da ribeira de Alcantarilha, em Armação de Pêra, como referem os pescadores, Paulo Cruz mostrou-se surpreendido.
“Não é aconselhável. Por norma, quando tomamos conhecimentos dessas situações, colocamos painéis a desaconselhar” a utilização da água por banhistas, garantiu o vice-presidente da ARH
Entretanto, o vereador da oposição na Câmara Municipal de Silves Fernando Serpa (PS) equaciona apresentar uma queixa-crime contra terceiros com o objetivo de apurar responsabilidades pelo sucedido com a mortandade de peixes.
E prepara-se para incluir nesse processo um rol de testemunhas desde responsáveis da ARH e autarcas, até à comunidade piscatória.
“Não posso admitir que ano após ano nada seja feito como se nada se passasse”, afirmou ao barlavento.online Fernando Serpa.
Por outro lado, ao que foi possível apurar, existirá um acordo tácito entre a Câmara Municipal de Silves e a ARH para proceder à abertura da ligação da ribeira de Alcantarilha ao mar durante o Inverno.
Em relação ao Verão, a autarquia receará o eventual impacto resultante de tal medida, uma vez que isso seria libertar na área balnear águas com níveis de poluição desconhecidos.
Um responsável do executivo terá até desabafado temer que isso “possa comprometer a Bandeira Azul” na Praia de Armação de Pêra, numa altura em que esta zona está repleta de turistas.
Fonte: Barlavento Online