1049: Daúto Faquirá : «Descida do Olhanense é situação que não se coloca»
Apresentado como treinador do Olhanense há pouco mais de um mês, e com duas semanas de trabalho com o plantel rubro-negro, Daúto Faquirá, entrevistado pelo «barlavento», traçou objetivos para a próxima época na Liga Zon Sagres, garantindo que serão cumpridos.
O treinador, que diz lidar bem com a pressão, afirma que a descida do Olhanense à Segunda Liga é «situação que não se coloca», pois o lugar da equipa é «indubitavelmente na Primeira Divisão».
barlavento (b) - Qual o balanço das duas primeiras semanas de trabalho à frente do Olhanense?
Daúto Faquirá (DF) – O balanço é extremamente positivo. Estamos na fase de construção da equipa, a criar os alicerces necessários para a temporada que se avizinha e, num processo de formação de uma equipa, há avanços e recuos normais. Estamos a ter um cuidado extremo no recrutamento de jogadores que possam, não só na vertente desportiva, mas também humana, enquadrar-se neste projeto. Temos feito uma boa avaliação ao grupo que temos, particularmente no empenho e esforço que, aliados ao valor que os jogadores têm, queremos que sejam as «linhas mestras» deste nosso Olhanense. Os primeiros testes também têm sido positivos, de acordo com os objetivos que colocámos em cada fase de preparação. Estamos cientes que vai ser um trabalho árduo, mas temos todas as condições para fazer bem.
b- A saída de muitos dos jogadores que compunham o plantel na época passada torna o seu trabalho mais complicado?
DF - É obvio que vamos fazer uma equipa nova. Perdemos jogadores que estavam cá no ano passado, mas os que foram mais importantes em termos de grupo mantiveram-se e esses estão a ser a base de integração dos outros que estão a chegar. Quando eu digo isto, refiro-me aos jogadores mais experientes, os capitães da equipa. No ano passado, o grupo teve grandes desafios e esses jogadores tiveram uma importância extrema. E a permanência destes atletas é também importante para que, o mais cedo possível, possamos ter uma equipa com uma identidade própria.
b- Disse, na apresentação enquanto treinador do Olhanense, que o objetivo para esta época era fazer melhor do que no ano passado. Isso passa por atingir um lugar específico na tabela classificativa?
DF - Temos um objetivo principal que é a manutenção. Fazer melhor do que o ano passado, é conseguir a manutenção mais cedo. Fazer isso é sinal de que melhorámos. Quando se traçam objetivos, devemos procurar que sejam ambiciosos, atingíveis e consigam mobilizar todo o grupo. Sou ambicioso e tenho um grupo de trabalho que sinto que é também ambicioso.
b- Está satisfeito com o plantel que tem à sua disposição?
DF - O plantel ainda está a ser formado, faltam três, quatro... [interrompe]. Faltam alguns retoques para que o plantel fique de acordo com aquilo que é a nossa realidade orçamental. À excepção de seis ou sete equipas, todas procuram o mesmo: ficar dois lugares acima da linha-de-água. De acordo com isso, estou contente com o esforço que tem sido feito pela direção para ir ao encontro daquilo que são as nossas ambições e expetativas. As nossas ambições devem entroncar com aquilo que são os objetivos do clube, não só no imediato, mas também a médio/longo prazo. Vamos procurar criar ativos para evitar aquilo que aconteceu este ano, em que eu cheguei e tive que criar uma equipa nova. Vamos tentar que eu, ou quem vier em meu lugar, tenha esse trabalho facilitado no futuro, e que o clube possa ter e capitalizar ativos para não estar dependente dos empréstimos.
b- A alteração da política de contratações do Olhanense, com menos empréstimos e mais jogadores com contrato, foi exigida por si?
DF - Sim, foi um conciliar de interesses e vontades. Temos estado a trabalhar num gabinete para aprofundar o trabalho de prospeção, seleção e recrutamento de jogadores, não só na equipa sénior, mas também nas equipas de formação, procurando ter jogadores representativos daquilo que é a região. É difícil fazê-lo no imediato, mas é importante que se perceba que, se o fizermos, a médio/longo prazo haverá uma identificação maior entre aquilo que é a região, o clube e os adeptos. É essa linha de pensamento que eu tenho, de acordo com o presidente também, que tem feito um esforço para adquirir jogadores que nos possam dar garantias de qualidade.
b- Quais as lacunas que ainda identifica no plantel?
DF - Não vou especificar. O que pretendemos é ter a equipa competitiva e isso passa por ter, para cada lugar, dois jogadores que disputem a posição. Está para chegar um jogador para cada sector. Em termos gerais será isso que vai acontecer.
b- Como têm sido as primeiras semanas de contacto com o clube e os sócios do Olhanense?
DF - Já conhecia minimamente o Olhanense. Não conhecia muito bem a região, mas tinha perfeita noção daquilo que vinha encontrar. Apesar de estar cá há apenas duas semanas e de não ter tido tempo de conhecer tudo muito bem, dá para entender que encontro um clube implantando numa região com forte tradição no futebol, de gente humilde, que vive muito o clube. E esta é uma forma de estar onde eu me reconheço enquanto pessoa e treinador. Já disse mais do que uma vez que o meu percurso enquanto treinador tem sido muito bem sustentado. Gabo-me por ter passado por todas as divisões com sucesso e chego aqui com o coração aberto para abraçar a região. É importante dedicarmos 24 horas por dia ao clube e perceber o que as pessoas querem: uma equipa competitiva, que vai procurar conciliar o aspeto do resultado à exibição e que vai conseguir cumprir o principal objetivo do Olhanense.
b- Falou em conciliar o espetáculo com resultados. São esses os fundamentos de uma equipa à sua imagem?
DF - Não posso negar aquilo que acho que é importante na formação de uma equipa: que seja equilibrada e entenda os vários momentos do jogo. Sendo ofensiva, mas que saiba defender. E isso pressupõe aliar o espetáculo ao resultado. Queremos uma equipa compacta, coesa, solidária e que, no final de cada jogo, todos os jogadores tenham suado a camisola e respeitado os valores do clube.
b- No ano passado, o seu antecessor, Jorge Costa, afirmou que seria um «descalabro» se o Olhanense não permanecesse na Primeira Liga. Sente também essa pressão?
DF - Quando se envereda por esta profissão tem que se lidar com a pressão no dia-a-dia. Quando escolhi esta carreira sabia para aquilo que vinha. Costumo dizer, como dizia um colega meu, que pressão sofrem as pessoas que estão no hospital ou que têm familiares no hospital. Temos a pressão inerente à nossa profissão com a qual devemos saber lidar, e eu convivo bem com ela. Uma descida de divisão é um retrocesso e representa uma perda de um conjunto de regalias, o que torna muito difícil a sustentabilidade do clube. Mas nós nem sequer colocamos essa situação, em função daquilo que é o nosso trabalho, o nosso grupo, e daquilo que é o clube e a paixão das pessoas por ele. O lugar do Olhanense é, indubitavelmente, na Primeira Liga.
Fonte: Barlavento Online