1089: Água quente pode estar a influenciar os animais marinhos
As temperaturas do mar na costa Sul algarvia têm andado, este Verão, durante semanas a fio, entre os 23 e os 26º, num período muito prolongado de águas mais quentes. E estas temperaturas elevadas podem estar na origem da mudança de comportamentos.
A temperatura da água do mar mais elevada que o normal, nesta época do ano, pode estar na origem da mudança de comportamento de algumas espécies de animais marinhos.
Um número invulgar de avistamentos de tubarões é um dos fenómenos mais referenciados, mas a alteração mais significativa e preocupante está relacionada com as tartarugas-marinhas, entre as quais a mortandade tem sido invulgarmente alta.
Como revelou ao «barlavento» o biólogo do Zoomarine Élio Vicente, especialista em recuperação de animais marinhos, só desde o início do ano já foram detetadas «mais de 50 tartarugas mortas» na nossa costa, um número «muito anormal».
«Até agora, tínhamos uma média de seis ou sete tartarugas marinhas mortas por ano», comparou.
Explicar o porquê desta situação não é fácil, sem que sejam efetuados estudos que permitam sair do campo das teorias.
Mas «o bom senso» leva, à partida, a fazer uma correlação com o aumento da temperatura da água, algo extensível ao facto de os tubarões, nomeadamente os tubarões-martelo, andarem mais vezes à superfície no seu percurso migratório.
Neste último caso, explicou o especialista em tubarões da Universidade do Algarve Rui Coelho, «está documentado que os tubarões-martelo têm tendência a submergir e a nadar com a barbatana de fora quando há uma situação de termoclina».
Designa-se por termoclina o fenómeno que leva a que, em determinada zona, a água à superfície esteja a uma temperatura bastante superior à do fundo, «como se houvesse duas camadas de água».
No caso das tartarugas-marinhas, que são espécies «altamente ameaçadas», embora a temperatura da água possa ser uma explicação, há que estudar este acontecimento.
Apesar de a elevada mortandade poder estar associada a algo de pontual, que leva as tartarugas a aproximar-se da costa e a estar mais expostas a perigos como as redes de pesca ou mesmo interações com embarcações a motor, que podem causar a sua morte, os casos registados em 2010 «também podem ter origem biológica».
Élio Vicente deixa ainda o apelo a quem encontrar animais mortos na praia para que não lhes mexam, sob o risco de estar a atentar contra «a saúde pública».
De resto, o Zoomarine lançou esta semana um «Guia de Assistência a Animais Marinhos», com um formato pensado para caber em qualquer carteira e onde são descritos os procedimentos a ter em conta quando nos cruzamos com animais marinhos em perigo, vivos ou mortos.
Fonte: Barlavento Online