950: Perigo de derrocada: seis praias algarvias com alerta vermelho
Maria Luísa, Santa Eulália, Inatel, Baleeira, Burgau e Vale Olival. Seis praias no Algarve cujas arribas estão em risco de derrocada mesmo antes de abrir a época balnear. Com um fim-de-semana prolongado, o regresso do sol e as temperaturas acima dos 20ºC a convidarem a uma ida à praia, aconselham-se cuidados redobrados, depois de um Inverno que castigou mais que o normal a costa portuguesa.
No Algarve "houve o dobro ou mesmo o triplo das derrocadas de um ano normal", avançou ao i Sebastião Teixeira, um dos responsáveis da Administração Hidrográfica do Algarve (ARHA). Ao todo foram 25, mas a monitorização da costa ainda não está finalizada e é provável que o número ainda cresça. "Houve muitas quedas de blocos, derrocadas e erosão", explica o geólogo Óscar Ferreira, fruto do mau tempo que se prolongou até ao final de Março, com tempestades constantes.
Delminda Moura, geóloga da Universidade do Algarve, explica: "O problema é gravíssimo porque se criaram sapas (concavidades) na base de muitas arribas que ficaram com frentes em falso e que podem colapsar." E alerta: "Há muitas zonas em perigo antes da época balnear. É preciso fazer alguma coisa." Para já a ARHA vai fazer seis intervenções.
Num ano em que a costa foi especialmente castigada pela chuva e pelo vento, soltando grandes massas de terra e rocha, muitas praias algarvias vão sofrer intervenções urgentes antes de começar a época balnear (a 1 de Junho). Algumas delas são repetentes. É o caso da praia Maria Luísa, onde no Verão passado morreram cinco pessoas esmagadas por parte de uma rocha que caiu, a 21 de Agosto. Também no concelho de Albufeira, as praias de Santa Eulália e do Inatel vão sofrer este ano novas intervenções para minimizar os riscos de queda das arribas.
A Administração Hidrográfica de Albufeira já fez 14 intervenções em praias algarvias, desde desmontes (derrocadas controladas) a reforços das estruturas de suporte das praias. Mas muitas mais poderão ser necessárias para garantir a segurança das praias neste Verão.
"As arribas que estavam em risco acabaram por cair durante o Inverno, mas apareceram novos casos" devido às consecutivas tempestades acompanhadas de uma forte ondulação ao longo de meses, explica Sebastião Teixeira.
Perigo constante
A dinâmica da costa torna difícil prever onde se pode dar a próxima derrocada. A Administração Hidrográfica olha as praias no concelho de Albufeira e Loulé (zona de Vale de Lobo) com atenção redobrada, mas não há garantias de que outras arribas não estejam a pôr em perigo os primeiros turistas do ano. "De Albufeira a Olhos d'Água "é perigosíssimo", avisa Delminda Moura, acrescentando que, "a muito curto prazo, vai pôr-se em causa a estabilidade das estruturas por cima das arribas".
A estrutura sofreu este ano uma ameaça mais séria. "Todos os anos há recuos das dunas, mas não tão acentuados", explica Sebastião Teixeira. "Chegaram a dez metros. As praias não desaparecem, mas recuam para terra", acrescenta. No Norte e Centro, os problemas mais graves foram "os galgamentos e a erosão da costa". Só a ARH do Norte já investiu 800 mil euros em intervenções de urgência, disse ao i o presidente, António de Brito.
Novas barras
Mas nem só derrocadas vieram com o mau tempo. Na Ria Formosa levaram à abertura de duas barras: uma na ilha da Fuzeta e outra ao lado da Barrinha, em Faro. "É um fenómeno que acontece uma vez na vida", diz Sebastião Teixeira, explicando que é provocado pelas tempestades durante o Inverno. A altura das ondas no Algarve foi "elevada durante dois meses", o que não é muito comum - segundo o geólogo Óscar Ferreira, "só acontece de décadas a décadas".
Ainda não se sabe o que acontecerá às duas ilhas que separam a Ria Formosa do mar, mas o geólogo da Universidade do Algarve faz uma previsão: "Apenas uma das duas pode sobreviver porque competem entre si."
Fonte: Jornal i