1508: Portugal já está em seca extrema
Sete anos depois, Portugal volta a viver uma situação de seca severa no Inverno.
A precipitação nos últimos dois meses foi 85% inferior ao normal, pelo que, na avaliação da semana que vem, o Instituto de Meteorologia vai alterar a
classificaçãode seca meteorológica, de há 15 dias, para seca severa.
"A situação é, de facto, anormal em alturas de Inverno. Se não chover abundantemente em Fevereiro o País entrará em seca extrema, a situação
mais grave de todas", disse ao CM Vanda Cabrinha, do Instituto Nacional de Meteorologia.
Para a meteorologista, os valores deste mês de Janeiro só encontram paralelo em igual período de 2005. "A precipitação média, em Portugal,
no mês de Janeiro é de 117 litros por metro quadrado. No ano passado foi de 102 e este ano, até hoje (ontem), foi de 17, um valor que tem mais a ver com Junho do que com Janeiro", disse Vanda Cabrinha.
Quem começa a manifestar grandes preocupações são os agricultores, que já falam em prejuízos efectivos devido à seca.
"Os pastos não crescem e nós somos obrigados a dar forragens ao gado, quando só o costumamos fazer a partir de Maio. O problema é que cada fardo
(rolo) de palha custa cerca de 25 euros e não chega para quatro dias", disse ao CM o agricultor Joaquim Ferreira, de Braga, sublinhando que, devido à falta de pastos, se viu obrigado, na semana passada, a vender três vacas.
Segundo José Lobato, presidente da Associação de Defesa dos Agricultores, "são cada vez mais os homens da terra preocupados com a seca que,
nesta altura, o nosso País atravessa".
"A situação mais complicada é a das pastagens, mas a falta de água no Inverno torna-se, por norma, um problema muito grave no Verão, uma vez
que não se dá a necessária reposição dos níveis freáticos", diz José Lobato.
As previsões meteorológicas apontam para tempo seco e frio até, pelo menos, 6 de Fevereiro, o que provocará, necessariamente, um claro
agravamento do actual estado de seca.
OESTE TEME DESCALABRO NA PRODUÇÃO HORTÍCOLA
"Numa zona de produção intensiva, se não chover vai ser um descalabro. O que choveu esta semana não foi nada", desabafa José Artur,
presidente da administração da organização de produtores Horta Pronta, em Atouguia da Baleia, Peniche.
"Tem de chover agora, no Inverno, para depois, na Primavera, o tempo permitir às culturas crescerem", aponta, por sua vez, António Gomes,
presidente da Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste. O dirigente agrícola faz notar que "a continuar o tempo assim irá faltar água dentro de dois a três meses".
Feliz Alberto Jorge, responsável da Associação de Agricultores do Oeste, indica que os proprietários de explorações e pomares que não disponham
de sistemas de rega "é que vão sentir problemas", comentando, no entanto, que a situação "até poderá levar a que os preços estabilizem, por não haver excesso de produção".
DISCURSO DIRECTO
"TEMOS DE APOSTAR NO REGADIO": José Martino, Especialista em Agronomia
CM – Como pode reduzir-se o prejuízo causado pela seca na agricultura?
José Martino – A única maneira é apostar no regadio. Há projectos na gaveta, de regadios públicos, em zonas como Trás-os-Montes ou Beira Interior, que deveriam avançar. Temos de apostar no regadio, é uma urgência nacional.
– A situação de seca que se vive é já problemática?
– É. Embora os pomares, com excepção dos citrinos, estejam em repouso vegetativo, a falta de chuva faz com que os níveis freáticos não sejam
repostos, o que pode conduzir a uma situação catastrófica no Verão.
– Que culturas estão já a sofrer com a seca?
– O problema maior é o das pastagens, que não conseguem regenerar-se. Depois, os cereais.
Fonte: CM