Avanço do mar no algarve empurra banhistas para junto das arribas.
Portugal tem 70 praias em risco iminente de desaparecer ou de derrocada, no caso de arribas, devido ao fenómeno da erosão costeira. No total são cerca de 150 praias que merecem alertas por parte das autoridades. As 70 mais preocupantes são zonas consideradas pelo Instituto da Água (INAG) de intervenção prioritária, mas muitas continuam à espera de disponibilidade financeira para a realização de trabalhos de prevenção. Certo é o risco para os banhistas que se preparam para mais uma época balnear.
"Estamos a falar de diferentes níveis de risco. Há praias que podem deixar de o ser, devido ao avanço do mar, e outras cujas arribas podem cair a qualquer momento, por força das condições meteorológicas - como o vento e a chuva - e do mar que embate na base", explica ao CM Veloso Gomes, professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, especialista em gestão de recursos hídricos e ambiente.
A queda de arribas é, segundo Veloso Gomes, um fenómeno impossível de prever e de sinalizar. "É algo que pode provocar mortes, mas as autoridades só podem minimizar os perigos e sinalizar os locais de maior afluxo durante as épocas balneares", afirma, responsabilizando também os banhistas pelos cuidados a ter: "No Algarve, por exemplo, o avanço do mar faz diminuir a área de areia disponível, obrigando as pessoas a refugiarem-se mais próximo das arribas. Tem de haver bom senso das pessoas e perceberem que há riscos de as arribas ruírem".
As 70 praias identificadas constam dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira delineados pelo INAG, que prevê as respectivas recuperações até 2013.
"Há projectos de recuperação que estão atrasados por dificuldades financeiras. Se não existirem cortes no financiamento destes programas ainda será possível cumpri--los até 2013", refere Veloso Gomes, acrescentando: "Por muito que se faça, a queda de blocos sempre existiu e vai continuar a existir. O Ministério do Ambiente tem provocado derrocadas de prevenção, mas não é o suficiente".
INTERVENÇÃO DO HOMEM ACELERA PROCESSO
O fenómeno da erosão ocorre de forma natural, devido às forças da Natureza. Desde que o homem conseguiu modelar a paisagem, o processo tem vindo a acelerar. Entre as principais causas figuram o enfraquecimento das fontes aluvionares (bacias hidrográficas, albufeiras, extracção de areias dos rios), ocupação humana sobre dunas, praias e arribas, construção de quebra-mares e canais de navegação, implantação de esporões e fragilização das dunas, com terraplanagens e parques de estacionamento.
DISCURSO DIRECTO
"EM 10 ANOS COSTA RECUA 4 MILÍMETROS", Filipe Duarte Santos, Especialista em erosão costeira
Correio da Manhã - Qual é a taxa de recuo da costa?
Filipe Duarte Santos - Em 10 anos a costa portuguesa terá recuado cerca de quatro milímetros, o equivalente a 40 centímetros em 100 anos.
- Como se consegue inverter este fenómeno?
- É muito difícil porque há cada vez menos sedimentos a serem transportados até às praias.
- Que zonas inspiram mais cuidados?
- A zona entre a Foz do Douro e o cabo Carvoeiro é das mais vulneráveis do País, tal como o Algarve.
Fonte: CM