Ainda não estão “concertadas” outras medidas de protesto entre as entidades que compõem a Plataforma de luta contra as portagens na Via do Infante, mas uma delas é o recurso aos tribunais, através de uma providência cautelar.
Com a presença dos deputados de todos os partidos eleitos pelo círculo de Faro, com a exceção do PS, o fórum "Portagens no Algarve - Impacto Económico e Social", uma iniciativa da Plataforma de Luta Contra as Portagens na Via Infante reuniu hoje cerca de 200 participantes, entre autarcas, empresários, deputados e cidadãos.
Enquanto o dirigente sindical António Goulart da União dos Sindicatos do Algarve (UASAL/CGTP) interrogava os presentes sobre a continuidade da luta de protesto às portagens, para dar resposta a uma das maiores crises sociais e económicas do Algarve e o deputado do PSD Mendes Bota apelava a protestos na rua, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve e da câmara de Faro era mais cauteloso.
No balanço do encontro Macário Correia admitiu “o recurso a uma providência cautelar”, mas apenas se falhar o diálogo com o Governo, com quem a plataforma vai reunir na próxima quarta-feira, via secretário de Estado das Obras Públicas, após uma espera de 5 meses.
“Estão pensadas outras medidas, mas ainda não estão concertadas” entre todas as entidades que compõem a plataforma. “Somos pelo diálogo e pela negociação”, sintetizou.
Segundo o líder da AMAL, um dos organismos signatários do manifesto contra a introdução de portagens na A22, "estão a ser feitas diligências" e "já foram dadas instruções" à Euroscut para a colocação de pórticos naquela via.
"Queremos, nestas semanas que faltam em relação a essa intenção [instalação de pórticos], procurar demover o governo [da introdução de portagens], afirmou.
Macário Correia lembrou ainda que o Algarve é a região que mais contribui "per capita" para a receita fiscal do Estado.
O autarca foi também cauteloso, num 'piscar de olho' ao seu próprio partido, que defende a cobrança universal das portagens, realçando que não é intenção da plataforma “quebrar a solidariedade relativamente ao combate nacional”. Contudo, não deixou de referir que há problemas reais na economia do Algarve
“Não temos de pagar o que já está pago (a maioria da Via do Infante foi paga por fundos comunitários) e esta diferença tem de ser compreendida (pelo Governo), desabafou.
Vitor Neto, presidente da Associação Empresarial do Algarve (NERA) e anfitrião do fórum, já salientara: “Nunca pedimos privilégios, apenas alertamos para as consequências”.
Para Vitor Neto e relativamente ao impacto das portagens no setor de turismo, “o destino não tem força suficiente para “incomodar” o turista com compras de chips, saldos, devolução de valores e etc", isto quando se prevê que em termos de competitividade a vizinha Andaluzia tem uma vantagem próxima dos 20% relativamente a receitas fiscais.
Vitor Neto lançou ainda o desafio de a plataforma “realizar mais sessões em diversas cidades do Algarve, para esclarecer todos” sobre o significado desta medida na economia da região.
O mesmo trajeto na A22 com portagens custará mais do dobro do que na Andaluzia
Um trajeto de 300 quilómetros na Via Infante (A22), no Algarve, vai custar mais do dobro do que o mesmo percurso numa autoestrada da Andaluzia após a introdução de portagens, estimou hoje um investigador da Universidade do Algarve, adiantou o investigador Fernando Perna.
Segundo um cenário apresentado pelo docente da área do Turismo, um percurso de 300 quilómetros na A22 - incluindo combustível e portagens -, custará 51,18 euros, mais do dobro dos 23 euros de gasto estimado para o mesmo percurso na Andaluzia.
Fernando Perna alerta ainda que as portagens vão provocar um aumento da carga fiscal sobre o turismo, sobretudo nas visitas dos excursionistas da Andaluzia, que são aqueles que ficam na região apenas um dia sem dormida em alojamento.
De acordo com a estimativa daquele docente, para uma viagem de 300 quilómetros na A22 já com portagens a carga fiscal passará a representar 79,6 por cento do preço final contra os atuais 61,6 por cento.
Dados recentes apresentados pelo investigador indicam que mais de 80 por cento das entradas de espanhóis no Algarve se referem a excursionistas, num universo de cerca de um milhão de entradas de espanhóis na região por ano.
A criação de uma oferta integrada de transportes públicos no Algarve e de uma linha de autocarro guiado foram algumas das soluções apresentadas por outros especialistas para uma melhor organização da mobilidade na região.
De acordo com outro docente da Universidade do Algarve, Manuel Tão, a introdução de portagens é um sintoma que revela o "cansaço" do modelo de mobilidade praticado na região nos últimos 20 anos.
O especialista diz que a "Rua Nacional 125" não é uma alternativa à A22. E defende uma moratória à introdução de portagens na região, medida que, diz, vai "penalizar duplamente" - externa e internamente -, o Algarve.
O engenheiro João Reis Simões defende, por seu turno, que seja estudada a hipótese de introdução de um autocarro guiado, que circularia em via própria, e que apresenta mais vantagens do que o comboio.
De acordo com aquele responsável, os comboios no Algarve transportam apenas 5.000 passageiros por dia e um metro ligeiro, para ser rentável, teria que transportar 15.000 por hora e por cada sentido de rota.
Fonte: Observatório do Algarve