O projeto para abertura de uma nova barra na ilha da Fuzeta não contou com a participação da UAlg, que só foi chamada a pronunciar-se quando a obra estava a começar.
A Universidade do Algarve, que nunca subscreveu a solução encontrada, avisou a Administração da Região Hidrográfica do Algarve que a manutenção de duas barras abertas, em simultâneo, na Fuzeta, em Olhão, poderia resultar no fecho da barra que estava a começar a ser aberta, algo que acabou por acontecer pouco dias depois da inauguração da obra.
Apesar de ter sido chamada a pronunciar-se, a UAlg não participou na elaboração de um plano para a obra, tendo apenas sido solicitado o seu parecer «numa segunda fase», garantiu ao «barlavento» o geólogo e professor universitário Óscar Ferreira.
Segundo este especialista em dinâmica costeira, ao contrário do que foi avançado pela presidente da ARH do Algarve Valentina Calixto a diversos órgãos de comunicação social, a Universidade não participou na fase de estudo e na solução encontrada.
«Houve um mal-entendido da parte da engenheira Valentina, com quem já falei. Era suposto termos dado parecer na primeira fase, mas o pedido acabou por não chegar às nossas mãos», disse, sem querer aprofundar as razões que levaram a este lapso. Aquele pedido só chegou mais tarde.
«Fomos confrontados com a intenção da ARH numa altura em que a barra que abriu naturalmente já estava fechada e que a nova já estava a ser aberta. Na altura, avisei que a manutenção de duas barras abertas ia levar a um processo de competição», explicou Óscar Ferreira. «Neste caso, infelizmente, ganhou a barra velha», considerou.
A necessidade de abrir uma nova barra na Ilha da Fuzeta surgiu no seguimento da abertura de uma barra natural, frente à vila, na sequência do mau tempo. Foram também as condições adversas do mar que motivaram o fecho quase total da barra recém aberta.
Este será um fator que irá estar presente na intervenção de emergência que terá de ser agora levada a cabo, para resolver este problema.
«O ideal será uma intervenção quase simultânea de abertura da barra nova e fecho da velha, esperando que o mar ajude. As condições do mar, principalmente nesta altura do ano, são sempre problemáticas e de um grande grau de imprevisibilidade», referiu o geólogo da UAlg.
Na passada semana, Valentina Calixto já havia admitido ao nosso jornal que o cenário de competição entre as duas barras e potencial fecho da barra nova estava em cima da mesa desde o início.
Terá sido a tempestade que se abateu sobre a costa algarvia nos dias a seguir à inauguração que deitou tudo a perder, disse a mesma responsável.
Óscar Ferreira reforçou esta ideia, já que, lembrou, a nova abertura na ilha da Fuzeta foi sujeita «a mar bravo quando ainda não tinha ganho corpo suficiente».
«No Inverno, este tipo de intervenções depende sempre da boa disposição do mar», disse.
A ARH do Algarve já adjudicou, entretanto, a obra de encerramento da barra velha da Fuzeta e começou um levantamento topo-hidrográfico na barra nova, para determinar quanta areia terá de ser retirada do local.
A obra de fecho da abertura antes existente custará 750 mil euros. Já a abertura da barra entretanto quase fechada custou um milhão de euros.
Entretanto, os principais prejudicados por esta situação continuam a ser os pescadores da Fuzeta, que vêm as suas condições de trabalho deterioradas.
E até foram os profissionais da pesca dos primeiros a avisar que a solução encontrada pela ARH e pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil não ia resultar e que a barra iria fechar em pouco tempo…tal como realmente veio a acontecer.
Fonte: Barlavento Online