1185: Fuzeta: Pescadores ameaçam boicote às eleições e travar o turismo no Verão
Os pescadores da Fuzeta exigem medidas concretas que lhes permitam uma barra com condições de navegabilidade e segurança. Boicote às próximas eleições presidências e travar o acesso à ilha da Fuzeta no Verão são formas de protesto na calha.
“Nem embarcações pequenas conseguem passar agora por ali”, relata ao Observatório do Algarve João Romeira, pescador e um dos interlocutores junto dos técnicos da Sociedade Polis Litoral da Ria Formosa, que monitorizam a nova barra da Fuzeta, inaugurada a 26 de novembro e que assoreou parcialmente a 2 de dezembro.
Os pescadores locais dizem-se cansados de promessas e assumem-se dispostos a ações mais enérgicas caso as autoridades competentes não lhes apresentem soluções concretas.
A primeira medida de protesto é já nas eleições presidenciais, marcadas para 23 de janeiro.
“A maior parte dos pescadores da Fuzeta, mais de 90 por cento, vai boicotar as eleições”, conta João Romeira.
Outra das ações previstas é “fechar o canal” e impedir as carreiras para a ilha da Fuzeta durante o Verão, medida que a concretizar-se terá uma forte repercussão negativa no turismo.
“É tudo para aqui e depois nunca se vê nada. Vemos as coisas fazerem-se em Olhão e aqui nada. Andamos cheios de promessas”, reclama o pescador que reivindica uma barra com condições de navegabilidade e segurança e um Porto de Abrigo, há muito prometido.
“Eles [entidades oficiais] que não venham cá com promessas, porque de promessas estamos nós fartos”, sublinha.
Acesso ao mar só por canal secundário
Sem condições para entrarem no mar através da nova barra, a única solução, de acordo com João Romeira, é utilizar o canal secundário da Ria Formosa, que liga a Fuzeta a Olhão, solução que pode implicar alguns dissabores com as autoridades, diz o pescador.
“A alternativa que temos é ir atravessar entre Olhão e a Fuzeta, a arriscarmo-nos a apanhar uma multa”, conta.
João Romeira explica que até agora nenhum pescador foi multado, mas já existiram vários alertas por parte da Polícia Marítima: “já fomos muitas vezes avisados para não fazermos aquela navegação. O que a Polícia Marítima nos disse é que a Ria Formosa proibiu a navegação de barcos superiores a 9 metros”, afirma.
Fonte da direção do Parque Natural da Ria Formosa adiantou ao Observatório do Algarve que os barcos de pesca, desde que licenciados para esta prática, podem navegar nos canais secundários da Ria Formosa, independentemente do comprimento.
Segundo o Regulamento do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Ria Formosa (ponto 4, artigo n. 44), publicado em Diário da República a 2 de setembro de 2009, “nos canais secundários é permitida a navegação de todo o tipo de modos náuticos com um comprimento máximo de 9 m e de embarcações de pesca costeira sujeitas às condições de navegabilidade com velocidade inferior a 15 nós, (.)”.
Areias serão removidas assim que o mar permitir
Valentina Calixto, presidente da Sociedade Polis Ria Formosa, em entrevista à Lusa, admitiu na quinta feira que a barra nova da Fuzeta só está operacional "em maré média a alta" e assegurou que "assim que o mar o permitir" as areias da nova barra serão removidas.
"A barra só está navegável, efetivamente, em condições de maré média a alta, portanto, na baixa mar o assoreamento que se deu dificulta a sua utilização", declarou.
De acordo com Valentina Calixto, o atual cenário da barra nova estava previsto, mas não foi possível impedir o seu assoreamento por causa dos recentes temporais que não permitiram iniciar os trabalhos de encerramento da barra velha.
A barra velha começou a drenar com o temporal que ocorreu e entrou em concorrência com a barra nova, explicou a presidente da Sociedade Polis, acrescentando que assim que o mar o permitir as equipas vão para o terreno desimpedir a boca da barra nova.
"São oito dias de trabalho e assim que o mar o permitir as equipas vão para o terreno, porque fizemos a adjudicação desse trabalho à Sofareia", uma Sociedade Farense de Areias, vocacionada para a execução de dragagens e obras marítimas.
A areia que vai ser retirada da "boca da barra nova" vai servir para fechar a barra velha e para reforçar o cordão dunar, referiu.
A abertura e o acesso à barra nova, de onde foram retirados 30 mil metros cúbicos de areia, teve um custo de 90 mil euros, mas se se acrescentar os trabalhos do fecho da barra velha e o reforço do cordão dunar a empreitada do Polis está avaliada num valor total de 980 mil euros.
Fecho da barra velha não resolve o problema
João Romeira refere ao Observatório do Algarve que o fecho da barra velha não irá impedir um novo assoreamento da barra nova.
“Eles que façam o que quiserem, a barra fecha na mesma”, diz perentório. A força da corrente do mar aliada à intensidade do vento, que faz deslocar “as areias que puseram em cima da praia, que estão moles”, são dois dos fatores naturais que o pescador diz contribuírem para o insucesso da nova barra.
A comunidade piscatória da Fuzeta defendia que a barra tivesse sido mantida na localização aberta naturalmente pelo mar durante as tempestades no início deste ano, perante essa impossibilidade pedem que a nova barra seja fixada com molhes (ver notícia).
Fonte: Observatório do Algarve