A fábrica dinamarquesa de transformação do fruto seco da alfarroba, a “Danisco”, com sede em Faro, encerra hoje as portas e deslocaliza-se para Valência (Espanha), levando toda a estrutura produtiva e toda a tecnologia “made in Algarve”.
“Portugal perde uma unidade industrial líder mundial de produção de hidrocoloides de alfarroba, vulgarmente conhecido pelo E 410, um espessante para adicionar, por exemplo, à comida dos bebés”, lamenta, desanimado, Manuel Caetano, conhecido no Algarve como “mister Alfarroba”, pela sua ligação ao setor.
Manuel Caetano, com 73 anos de idade, começou aos 18 anos a trabalhar na Indal Industria de Alfarroba, uma unidade que foi adquirida em 1952 por dinamarqueses e passou a chamar-se Danisco.
“Hoje, os proprietários da Danisco entregam a chave ao senhorio do espaço onde se transformava a alfarroba, junto à estação de caminhos-de-ferro de Faro e deslocalizam-se para Espanha”, explica Manuel Caetano, referindo que os dinamarqueses têm uma outra unidade em Valência, capital da Comunidade Valenciana, que transforma 12 mil toneladas de sementes de alfarroba por ano.
Para além do encerramento decisivo da fábrica foram também despedidos 38 funcionários, entre os quais técnicos qualificados, e nenhum foi transferido para Espanha.
“Quatro dinamarqueses, um mexicano e três espanhóis vieram à Danisco em Faro para copiar a tecnologia ao Algarve para a levar para Valência”, contou o “mister Alfarroba”.
Toda a tecnologia “foi desenvolvida no Algarve”
Manuel Caetano, em entrevista ao Observatório do Algarve, alertara em 2008 para a intenção da Danisco de levar consigo a tecnologia obtida no Algarve.
Este conhecimento possibilita a extracção a frio da goma da semente da alfarroba, a que se segue a produção de hidro-colóides, matéria prima muito utilizada em cosmética.
Toda a tecnologia “foi desenvolvida no Algarve” afirmou na altura ao Observatório do Algarve Manuel Caetano, ex-presidente da Danisco Portugal e da Indal, indústria transformadora da alfarroba.
Aliás, a vinda para a região daquela multinacional, prendeu-se com a existência desse know-how que foi possível desenvolver “graças à qualidade do produto (alfarroba) e às condições climatéricas”, conta Manuel Caetano, um reconhecido especialista nesta matéria.
“Eles (Danisco) sempre estiveram interessados na tecnologia que possuíamos desde a altura em que adquiriram a Indal ao grupo suíço Meyall” esclarece Manuel Caetano, que se desvinculou do grupo há dois anos, quando se jubilou, e cuja preocupação foi sempre "que a tecnologia existente não fosse transferida para outro país”.
Segundo Manuel Caetano, que faz parte da Associação Interprofissional para o Desenvolvimento de Produção e Valorização da Alfarroba (AIDA) e pertence ao Agrupamento de Produtores de Frutos de Casca Rija, a deslocalização de uma fábrica do Algarve representa uma “perda de conhecimento tecnológico da transformação das sementes da alfarroba tanto para a região, como para o país que a tinha”.Ver notícia .
A alfarrobeira é uma árvore de grande porte que necessita de pouca água, menos cuidados intensivos do que por exemplo os citrinos, garante preços sustentáveis, explicou Manuel Caetano.
No Algarve existiam duas fábricas de transformação de alfarrobas, a Danisco e a Victus Industrial Farense, e quase toda a sua produção é para exportação para países como o Japão, EUA ou Inglaterra.
A semente de alfarroba é utilizada em várias indústrias, como a farmacêutica (para dar forma a alguns comprimidos), cosmética (quanto mais os cremes forem hidratantes, mais goma da semente de alfarroba têm), a alimentar (como aditivos para pudins, papas de bebé e estabilizantes para gelados), têxtil e papel.
Fonte: Observatório do Algarve