871: Ria Formosa vai transformar-se
A subida do nível médio das águas do mar e as sucessivas tempestades marítimas registadas recentemente no Algarve são o motor de arranque para a área da Ria Formosa minguar nas próximas décadas.
As cinco tempestades marítimas registadas em apenas um mês no Algarve, com galgamentos oceânicos sobre o cordão dunar, provocaram recuo da linha de costa e o derrube de cerca de 20 casas junto à Ria Formosa. Mas as consequências imediatas são só a ponta do iceberg.
"Numa perspectiva de subida do nível médio do mar, prevê-se que haja uma migração efectiva das ilhas barreira para o interior e, por isso, toda a área costeira pode vir a migrar de forma paulatina", observou o geólogo e especialista em dinâmica costeira da Universidade do Algarve Óscar Ferreira.
O investigador não quer entrar em alarmismos imediatos, mas em entrevista à Agência Lusa menciona que se trata da evolução natural devido à subida do nível médio do mar, que pode ser mais rápida e potenciada pelo registo de tempestades marítimas.
Os riscos associados à migração das ilhas barreira para o interior podem prevenir-se com a diminuição directa da ocupação humana da Ria Formosa, nomeadamente não "bordejando o sistema lagunar com ocupação em cimento", alertou.
"Quando essas áreas estão ocupadas por nós [seres humanos] de forma maciça, o que acontece é um encolhimento do sistema que contribui para aumentar a sedimentação dos canais, perda da troca de circulação da água e da sua qualidade".
"Se as ilhas barreira não puderem migrar livremente para o interior, a dimensão da Ria Formosa vai diminuir, destruindo ou danificando valências ambientais únicas como os sapais ou as pradarias marinhas", acrescentou Óscar Ferreira.
Se houver perda parcial do ecossistema, poderá também haver uma diminuição da qualidade ecológica do sistema e da sua qualidade económica, acrescentou, referindo-se, por exemplo, à actividade de mariscultura.
"Se não houver uma boa renovação da água, acaba por se perder a qualidade de todo o ecossistema", observa, recordando que a sobrevivência dos organismos e de toda a economia relacionada fica em perigo.
Na opinião do cientista, os planos de ordenamento da orla costeira devem integrar as consequências das alterações climáticas globais, nomeadamente a subida do nível do mar, mas "raramente os planos de gestão costeira contemplam a dinâmica dos sistemas naturais".
Fonte: Observatório do Algarve