777: Ambiente na península ibérica reúne cientistas
Mais de uma centena de especialistas portugueses e espanhóis vão estar reunidos na próxima semana na UAlg, entre 5 e 9 de Outubro, para debater o ambiente na Península Ibérica.
O evento é organizado pelo Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) e decorrerá no anfiteatro Teresa Júdice Gamito, no Campus de Gambelas da UAlg. Na VII REQUI, vão estar em debate esta e outras questões relacionadas com a história do clima da Terra e da Península, com uma atenção especial ao que se passa no Sul da região. “Será analisada a história recente da interacção entre o oceano e o continente, bem como as alterações do nível do mar, a evolução do clima reflectido na história da coberta vegetal do Sul da Península e ainda o condicionamento da ocupação humana do território pelos parâmetros climáticos” refere Tomasz Boski, investigador da Ualg. O tema central do encontro será o futuro do ambiente da Península Ibérica inferido a partir do passado geológico recente, com enfoque especial para os últimos 10 mil anos do Quaternário, que começou há 1,6 milhões de anos. Actualmente vivemos no Holocénico, como são conhecidos os últimos 10 mil anos da Era Quaternária da história da Terra. Há todavia opiniões de que na realidade, no presente, já entrámos no Antropocénico, período assim baptizado devido ao imenso impacte que a intervenção humana tem vindo a ter sobre o ambiente do planeta. O Prof. Tomasz Boski, geólogo, coordenador do CIMA é um dos especialistas na Era do Quaternário que defende esta hipótese: “A actividade humana tem provocado alterações ambientais de tal magnitude que superam frequentemente a variabilidade natural.” Um exemplo do impacte da actividade humana são as variações do CO2 na atmosfera terrestre, que de forma natural oscilaram entre as 200 partes por milhão/volume (ppmv), há 15 mil anos, e as 280 ppmv há 5000 anos, estando estes valores provavelmente relacionados com a subida do nível dos oceanos: “quando o oceano avança retém nutrientes que suportam a fotossíntese marinha e quando há menos nutrientes haverá menos plâncton, logo menos CO2 é retirado da atmosfera”. Neste momento, o teor de CO2 na atmosfera alcançou já as 385 ppmv. A diferença, correspondente a 200 biliões de toneladas de carbono na atmosfera, deve-se “exclusivamente à actividade humana, que já alterou certos parâmetros do sistema atmosférico para além da sua variabilidade natural”. Segundo Tomasz Boski, “as variações climáticas e ambientais no Sul da Península estiveram sempre dependentes, até à ocupação humana, do nível de precipitação”, ou seja, de chover mais ou menos. As tão procuradas previsões dos cenários ambientais futuros só podem ser conseguidas através da compreensão das relações entre os fenómenos actuantes à escala global, regional e local, o que exige a integração de informação de carácter multidisciplinar, daí a importância de cruzar informação com os especialistas que em Espanha se debruçam sobre a Era do Quaternário. “O intercâmbio científico entre os quaternaristas de Portugal e de Espanha através das reuniões bianuais REQUI existe já há mais de vinte anos. Além de promover a discussão e a divulgação dos mais recentes desenvolvimentos do nosso conhecimento sobre a evolução recente do clima, das paisagens, dos ecossistemas e da adaptação do Homem a essas mudanças, o REQUI afirma a importância das línguas ibéricas como veículo de comunicação da ciência”, sublinha o responsável. Este ano, o CIMA aceitou o desafio colocado pela Asociación Española de Estúdios Cuaternários e pelo Grupo de Trabalho Português para o Estudo de Quaternário para organizar a VII REQUI no Algarve, uma reunião que conta com o apoio das câmaras municipais de Faro, Tavira e Lagos e cujos principais objectivos serão contribuir para o reforço dos laços existentes entre as duas comunidades científicas e para a merecida posição de destaque que as ciências do Quaternário assumem no momento presente.
Fonte: Observatório do Algarve