Parceiros regionais queixam-se da falta de verbas e de poderes e entendem que estratégia nacional «falhou». Nos dois concelhos mais desertificados da região, pouco mudou nos últimos cinco anos.
O Presidente da República Cavaco Silva pediu, há um mês, em Querença, mais atenção ao fenómeno da desertificação; o apelo foi renovado há três semanas, em Alcoutim, pelo ministro da Agricultura; a medida repete-se aqui e ali nos programas eleitorais.
No entanto, quase ninguém sabe o que é feito do único programa nacional de combate à desertificação desenvolvido em solo algarvio.
A criação do programa remonta ao Verão quente de 2004, quando uma onda de incêndios arrasou boa parte da serra algarvia. Castro Marim e Alcoutim não foram excepção, mas os fracos recursos daquele território em risco de desertificação humana e natural levaram a que fosse criada a zona piloto da aldeia das Furnazinhas (Castro Marim). O objectivo era mitigar os prejuízos dos incêndios e recuperar as áreas ardidas.
Liderado pela então Direcção Geral de Florestas, o projecto foi apelidado de «Estratégia das Furnazinhas» e integrado no Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação (PANCD). Na fase inicial, teve o mérito de reunir meia centena de entidades e associações com representação no Nordeste algarvio.
Contudo, e perante a falta de incentivos financeiros ao projecto, que nunca chegou a contar com verbas directas, o número de interlocutores foi diminuindo, poucas áreas florestais foram repovoadas e, das 39 medidas aprovadas, só algumas foram dinamizadas no terreno.
Excluindo projectos como o Centro Multiusos ou a criação de estruturas de apoio turístico, pouco mais se alterou na rotina da aldeia das Furnazinhas, onde a caça continua a ser uma das principais actividades e o envelhecimento da população uma rotina normal.
Contactado pelo «barlavento», o presidente da Câmara de Castro Marim, concelho que acolheu a única zona piloto criada no Algarve, diz não ter observado resultados práticos do programa, considerando «lamentável» que, depois de várias reuniões de trabalho, «não se vejam resultados».
Na mesma linha, o presidente da Câmara de Alcoutim, outro dos concelhos mais desertificados do Algarve e também integrado na estratégia, prefere afirmar, sem rodeios, que os cinco anos de projecto das Furnazinhas «falharam».
«Desde a primeira hora, o programa pareceu-me uma tentativa do Governo se entreter, até porque a subcomissão regional [do PANCD] criada no Algarve não tinha poder efectivo, nem verbas», continuou.
Uma fonte da CCDR ligada ao processo disse igualmente ao «barlavento» não terem sido realizados mais encontros relativos ao PANCD no Algarve desde o ano passado, «altura em que a subcomissão regional foi extinta e o projecto entregue à população».
Já ao nível académico, o investigador da Universidade do Algarve Nuno Loureiro, que até 2006 estudou aprofundadamente o fenómeno da desertificação no Algarve, tendo criado um conjunto de documentos e trabalhos para o PANCD, onde se apontavam os principais territórios regionais em risco de desertificação, desconhece estar a ser desenvolvida nova pesquisa nesse sentido.
«Actualmente, diria que o fenómeno da desertificação deixou de estar em voga e o discurso passou a estar centrado nas alterações climáticas. O que mudou desde 2005 foi talvez o facto de a população estar cinco anos mais envelhecida. De resto, os diagnósticos estão feitos há muito tempo», frisou.
Fonte: Barlavento Online