751: Construção nas arribas acelera derrocadas, avisa a Almargem
A associação Almargem alerta, num comunicado, para a necessidade urgente de travar a ocupação das arribas litorais, de modo a evitar que se sucedam tragédias semelhantes à que aconteceu na passada sexta-feira na Praia Maria Luísa, em Albufeira.
Para a principal associação ambientalista algarvia, a actuação do Governo no seguimento deste acontecimento «encerra em si um claro sinal de ausência de percepção do que está realmente em causa».
A Almargem alerta ainda que a decisão «de levar a cabo o desmantelamento parcial do bloco de arenito que esteve no centro do acidente», tomada logo a seguir ao acidente, «apesar de compreensível», não pode «ser encarada de ânimo leve».
A proposta de demolir todas as arribas instáveis, que dizem ter sido avançada pelo Governo, ou betonizar as falésias que apresentem risco de ruir, como «foi feito há alguns anos em Albufeira», não são soluções aceitáveis, defendem, já que só servirão para impulsionar a construção nestas zonas sensíveis da costa algarvia.
«Infelizmente, o suposto interesse superior da manutenção da imagem do Algarve continua a não deixar ressaltar a necessidade imperiosa de seriamente se definir zonas realmente de risco, e se necessário interditá-las, como aconteceu há alguns anos em Vale do Lobo, por acção do INAG, por muito que isso custe», considera a Almargem.
Um trabalho que até já tem uma base para assentar. Segundo os ambientalistas, as principais zonas de risco «estão há muito identificadas pelas autoridades regionais».
«As zonas de risco mais elevado localizam-se em dois troços do litoral central do Algarve: o troço de arriba rochosa (calcária) entre a Praia dos Três Castelos/Prainha e a Praia da Rocha (Portimão) destacando-se o troço entre a Praia do Vau e esta última - e o troço entre Albufeira e Olhos de Água, constituído na sua maioria por arriba rochosa (calcária) e por arriba arenosa (arenítica) entre a Praia Maria Luísa/Torre da Medronheira e os Olhos de Água, justamente na zona onde agora se deu a derrocada», revelam.
A Almargem identifica outros troços «considerados de médio risco», «entre a Ponta da Piedade e Lagos, particularmente na Praia de D. Ana, área já intervencionada após ocorrência de derrocada», «entre o Carvoeiro e a Senhora da Rocha, particularmente nas arribas sobranceiras ao Carvoeiro» e «entre a Praia da Galé e São Rafael/Ponta da Baleeira».
«Quase todos os troços referidos estão já fortemente ocupados por urbanizações, muitas delas em plena arriba, e nos quais surgem regulamente (ainda mais) novas construções», avisam os ambientalistas.
«É este o cenário que o Sr. Ministro [do Ambiente] deveria ver, aproveitando o facto de, mesmo como cidadão em férias, poder tomar conhecimento de uma realidade que não pode mais ser tapada com a peneira», criticam.
«A noção de risco prevê alguma imprevisibilidade, sendo mais correcto assumir estas zonas como de maior ou menor risco potencial, quer em face da maior sensibilidade face aos factores naturais (agentes erosivos) que contribuem para a actividade das arribas como sejam a acção do mar e das marés, mas também a chuva e a própria acção do Homem».
Neste caso, uma acção «particularmente derivada da ocupação por construções e da circulação de veículos que contribuem mais ou menos directamente para perturbar um sistema já por si muito dinâmico e frequentemente instável», adianta a Almargem.
No dia em que se deu a derrocada, a associação já tinha tomado uma posição pública, onde referia que o acidente constituiu «um negro desfecho para uma situação que infelizmente há muito se esperava», devido à forte pressão urbanística naquele troço do litoral.
Fonte: Barlavento Online