749: Estacionamento selvagem destrói dunas na Ria de Alvor
O acesso ao molhe nascente de Alvor está aberto e demorou pouco tempo até as pessoas se aperceberem que aquele seria o melhor caminho para chegar de carro à ria de Alvor. Agora são muitas as dezenas de motas, carros, carrinhas e autocaravanas que, todos os dias, percorrem o acesso, junto às piscinas de Alvor, até à beira da zona húmida, estacionando por todo o lado e pisando as dunas naturais.
Depois é só dar uns passos em direcção ao mar, atravessando o cordão dunar, para chegar à praia. Há, porém, quem prefira dar um mergulho na ria ou aproveitar a maré vazia para ir apanhar berbigões. Outros até chegam a pernoitar no local nas autocaravanas. O certo é que a ria não é deixada tal como foi encontrada.
A situação foi denunciada pelo Núcleo do Algarve da Liga para a Protecção da Natureza (LPN Algarve), que sublinha, em comunicado, que as pessoas circulam com «carros e autocaravanas, estacionam em qualquer lugar» sem se preocuparem se estão a «destruir a vegetação».
Como se não chegasse a destruição feita com o estacionamento selvagem, «os proprietários das viaturas ainda atravessam as dunas em direcção ao mar, criando novos caminhos e destruindo a vegetação que é fundamental para agarrar as dunas», acusa a LPN.
Por outro lado, são também muitas as pessoas que «deixam lixo por todo o lado», acrescenta a associação ambientalista.
No local, o «barlavento» encontrou, no fim-de-semana passado, longas filas de estacionamento improvisado, junto ao acesso e nas dunas em cima da vegetação. Já na ria encontravam-se dezenas de pessoas a apanhar berbigão, outras tantas estendidas a apanhar sol e até algumas a passear os cães.
A LPN Algarve, que há mais de 20 anos defende a protecção da Ria de Alvor, considera ainda que «o acesso ao molhe nascente da ria de Alvor, criado no início dos anos 90 do século passado, deveria ter sido removido após a construção dos molhes».
E a verdade é que o acesso tem estado fechado, mas foi reaberto, antes do Verão, «devido ao início das obras de reforço do cordão dunar nas praias de Alvor e às dragagens na ria, para permitir a passagem dos camiões que transportam os dragados», explicou ao «barlavento» fonte da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Algarve.
A obra teve que ser interrompida durante a época balnear, não tendo, entretanto, sido fechado o acesso.
Esta é uma situação que a LPN Algarve afirma ser absurda. «Estão a ser investidos milhares de euros para realimentar a praia e criar dunas primárias nas zonas balneares dos Três Irmãos e Alvor», mas logo ali ao lado a ARH permite que centenas de carros, motas e autocaravanas estacionem em cima de outra zona de dunas, contribuindo para a sua destruição.
Por isso, a LPN Algarve afirma não compreender os objectivos da ARH. «Por um lado, quer-se reconstruir o cordão dunar e, por outro, deixa-se ao Deus dará as dunas naturais que ainda restam em Alvor».
Quanto ao acesso ao molhe, contactado pelo «barlavento», o comandante dos Portos de Portimão e Lagos Marques Pereira afirmou que aquele é um «acesso exclusivo» para as entidades com responsabilidade pela ria como a Polícia Marítima, a ARH ou o Instituto de Conservação da Natureza, pois a zona húmida encontra-se integrada na Rede Natura 2000, uma rede europeia muito importante para a conservação da natureza.
Só que, se o acesso é «exclusivo» alguém se esqueceu de explicar isso às pessoas, nomeadamente colocando placas indicativas.
Fonte da ARH acrescentou, por seu lado, que o acesso «tem que ser possível num caso de emergência, por exemplo, com uma embarcação», até porque existe um porto de recreio na ria.
Alertada pelo «barlavento», a ARH garantiu que vai acompanhar a situação. Esta semana, «vamos fazer uma reunião com a Capitania e o IPTM para fazer depois acções de sensibilização e fazer a fiscalização, nomeadamente em relação ao estacionamento».
Em Outubro, a entidade retoma as obras interrompidas durante a época balnear.
Fonte: Barlavento Online