690: Algarve com futuro 'sombrio'
Nos próximos cem anos o Algarve pode ser afectado por períodos de seca mais extensos e severos, mais fogos florestais e chuvas menos frequentes mas mais violentas.
A tendência é para que as chuvas se tornem provavelmente mais irregulares e abundantes, com características semelhantes à precipitação que ocorre nas regiões tropicais, diz Tomasz Boski. O coordenador do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA), da Universidade do Algarve, diz ainda que no futuro pode tornar-se mais frequente a ocorrência da chamada bruma ou neblina seca, relacionada com o arrastamento de partículas de poeira do deserto do Sara. O fenómeno, que se verifica no Algarve sobretudo durante o mês de Maio, pode tornar-se mais frequente, embora o investigador frise que a sua ocorrência está mais relacionada com fenómenos à escala global. Por outro lado, há uma tendência para a subida da temperatura, embora Boski defenda que as oscilações térmicas são naturais, não se podendo afirmar que o clima está a sofrer uma mudança radical. O investigador prepara-se para iniciar um projecto do CIMA que visa obter um registo climático da região nos últimos milhares de anos, através da datação de sedimentos encontrados em naves (vales fechados), lagoas e albufeiras. O mesmo procedimento já foi utilizado no Estuário do Guadiana, onde uma equipa do CIMA, em colaboração com a Universidade de Cambridge, fez uma reconstituição do clima no Algarve nos últimos treze mil anos. Através do estudo - que consistiu na datação de sedimentos depositados no fundo do estuário com recurso à técnica de carbono 14, também usada em Arqueologia -, os investigadores definiram cinco fases climáticas. A reconstituição do clima na região permitiu, segundo Tomasz Boski, tecer algumas projecções no que respeita às alterações climáticas no futuro, sendo que a tendência é de subida da temperatura e chuva mais irregular e abundante. No que respeita à vegetação, se não houvesse intervenção humana, nomeadamente em processos de reflorestação, a tendência natural seria o declínio de árvores e o aumento de arbustos e plantas rasteiras. Contudo, o investigador chama a atenção para a necessidade de reflorestar com recurso a árvores autóctones e não importadas de outros países, como o eucalipto, trazido da Austrália. "A plantação de eucaliptos pode ser boa para a Indústria da Celulose, mas é mau para a paisagem", diz, lembrando que o eucalipto é uma árvore que seca muito o solo, sendo também altamente inflamável devido à resina.
Fonte: Observatório do Algarve