610: Alguém tem papel higiénico?
O grupo, que se intitula "Pais Indignados em Olhão", acusa vários estabelecimentos de ensino primário - e por arrasto, a Câmara e as Juntas de Freguesia - de não fornecerem papel higiénico suficiente aos alunos de várias escolas do 1º ciclo.
Como forma de protesto, os pais resolveram encetar um peditório original: solicitar a doação de rolos de papel higiénico aos cidadãos.
Esta manhã, junto ao Mercado Municipal, um monte com não mais de 100 rolos foi o que conseguiram angariar. Melhor saldo, foi o que obtiveram junto de populares e de vários órgãos de comunicação social.
"Faltam paus de esfregona, detergentes, toners, papel, tudo! Isto é um acto de cidadania, não é uma questão partidária", garante José Manuel Pereira, que dá a cara pelo insólito evento, apesar de não fazer parte do grupo de pais.
José Pereira, membro da Tertúlia dos Cafetantes, um movimento cívico que tem levantado algumas questões polémicas no concelho, acrescenta: "As pessoas têm medo, aqui em Olhão, estiveram aí de manhã alguns pais mas nós não quisemos arregimentar ninguém", explicando assim a ausência do grupo.
Outro membro da Tertúlia, José Castanheira, relata: "A Câmara mandou ordem para as escolas não contactarem os jornalistas e os pais têm receio de represálias, mas é verdade que por exemplo as escolas básicas nº 4 e nº 5 não tinham papel higiénico e há miúdos que andam com rolos na mochila".
Ontem, em comunicado, a autarquia garantia que tudo não passava de uma campanha "vexatória e vergonhosa".
"Muito embora a responsabilidade do seu fornecimento não seja da Câmara Municipal, não podemos deixar de repudiar tal atitude levada a cabo por pessoas mal intencionadas, que apenas pretendem impedir o bom funcionamento destes estabelecimentos de ensino, e esclarecer a população de que não existe carência deste ou de qualquer outro material em nenhuma das nossas Escolas", afirmava o presidente da câmara. "Esta afirmação pode ser comprovada por professores, funcionários, alunos e encarregados de educação de todas as escolas do concelho", acrescentava o socialista Francisco Leal.
"É verdade que muitas vezes, quando vamos à casa-de-banho, não existe papel e as contínuas têm de andar à procura de bloco em bloco mas passado algum tempo ele aparece", afirma ao Expresso Neide Fernandes, aluna de 13 anos, da escola EB 2,3 João Lúcio, Fuzeta.
"Eu fiz parte da mesa da Assembleia no pré-escolar do Largo da Feira (Olhão) e em 2007 os pais tinham de comprar muitas vezes papel", lembra por seu turno António Santos, pai de duas raparigas que frequentam a escola Alberto Iria. "Nesta escola, não há falta de papel", garante.
Ao meio-dia, os promotores do peditório decidiram fazer a entrega simbólica dos rolos de papel a um representante da autarquia e apanharam o que estava mais perto. Luís Rocha, fiscal do mercado, mostrou-se surpreendido: "Eu não sou funcionário da Câmara, pertenço a uma empresa municipal e não tenho qualquer responsabilidade na matéria", exclama, ficando com o rolo na mão e sem saber o que fazer -"Bom, mas um rolo de papel dá sempre jeito..." - decidiu.
Fonte: Expresso