603: Encontrado morto o macho do único casal de águia-imperial que nidificou no país
O macho do único casal de águia-imperial Aquila adalberti que nidificou com sucesso em Portugal em 2008 foi encontrado morto na última quinta-feira com chumbos de caçadeira, na área do Vale do Guadiana. O Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) vai apresentar queixa-crime contra incertos.
O corpo da ave, de uma espécie classificada como Criticamente em Perigo e que só existe em Portugal e Espanha, foi encontrado junto ao seu ninho na quinta-feira, na área do Vale do Guadiana, em zona de caça associativa já fora do Parque Natural mas dentro de uma ZPE (Zona de Protecção Especial). A cria tinha abandonado o ninho, no final do Verão, e é actualmente autónoma em relação aos pais.
"Fomos alertados por um proprietário da região que a tinha encontrado (...). Inicialmente suspeitámos de envenenamento mas depois de fazermos uma radiografia detectámos vários chumbos espalhados por todo o corpo", explicou ao PÚBLICO Pedro Rocha, director-adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas - Sul.
Segundo o ICNB, que já contactou o SEPNA da GNR para tentar saber o que se terá passado, a necrópsia revelou que a ave terá morrido entre os dias 21 e 23 de Fevereiro, atingida por chumbos de caçadeira.
A águia-imperial encontrada morta teria pelo menos seis anos, dado que apresentava ombros brancos, característica de aves que atingiram a idade adulta.
O abate desta águia configura uma contra-ordenação ambiental muito grave, em conformidade com o Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, de 24 de Julho de 2008.
Para Pedro Rocha, houve uma perseguição: "Todos os factos apontam para isso. Para alguém que, de forma premeditada, perseguiu a ave". "Queremos apurar responsabilidades".
Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, devem existir em Portugal entre dois a cinco casais de águia-imperial, na zona do Vale do Guadiana, no Alentejo Central e na Beira Baixa. No entanto, no ano passado apenas um conseguiu nidificar e reproduzir-se com sucesso. Os principais factores de ameaça são o envenenamento, a perseguição directa e a perturbação dos locais de nidificação.
"Esta espécie não criava em Portugal e, lentamente, está a tentar recolonizar o nosso território, vinda de Espanha. Por isso, esta perda é muito grande", lamentou Pedro Rocha.
A fêmea não terá agora vida fácil. Segundo Pedro Rocha, a ave tentará encontrar um macho nas redondezas para formar um novo casal. "Mas isso é pouco provável porque a maioria são aves imaturas que ainda não formam casais. O mais certo é a fêmea passar algum tempo sozinha e decidir procurar outra área para nidificar".
"Hoje temos mais condições" para esta espécie "mas mesmo assim temos de trabalhar mais. Isto [abate da ave] não nos valoriza sob qualquer ponto de vista".
O Vale do Guadiana está agora em plena época de nidificação. "Este é um período muito importante para percebermos se as aves estão a voltar aos ninhos. Este ninho já estava arranjado, um sinal de que o casal estava no local. Mas andavamos preocupados porque ainda não os tinhamos visto juntos. Mesmo que não fossemos alertados pelo proprietário, teríamos lá ido verificar o que se passava".
Fonte: Publico