A ANA-Aeroportos vai subsidiar a recuperação de aves no Parque Natural da Ria Formosa (PNRF). O Centro de Recuperação de Aves desta área protegida algarvia vai passar a ser financiado com uma verba de 40 mil euros por ano, mas a sua gestão passará para as mãos de privados.
Segundo revelou ao nosso jornal o director do Departamento de Áreas Classificadas do Sul do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) João Alves, o apoio da ANA foi negociado «pela anterior directora do Parque Isabel Pires, como medidas voluntárias do Aeroporto de Faro».
A ideia era o aeroporto «compensar, de certa forma, o impacto que tem, sobretudo na avifauna», que se reflectiria «na atribuição anual de um montante financeiro».
«No âmbito do processo do Bussiness & Biodiversity, que o ICNB começou há cerca de dois anos, foi proposto à ANA o alargamento dessa parceria. Assim a empresa, que tutela o Aeroporto de Faro como os outros aeroportos portugueses, apoiaria não só este centro, mas também outros», revelou João Alves.
«Este apoio, que já vinha de trás aqui no PNRF, foi inserido num projecto mais ambicioso que inclui, nomeadamente, o Centro de Recuperação de Seia, assumido pela ANA», acrescentou.
Tanto no caso do Algarve, como no da Serra da Estrela, a atribuição da gestão dos centros será feita por concurso. No Caso do PNRF, já foram abertas as propostas.
«Neste momento, foi escolhida uma, que está em análise, e estamos à espera da resposta do concorrente, para depois chegar a uma decisão final», disse.
A ANA vai, mais tarde, «transferir a verba para essa entidade concessionária, que permitirá assegurar o funcionamento dos centros». Em ambos os casos, o valor do apoio será de 40 mil euros.
Segundo João Alves, este dinheiro vai permitir que seja contratado um veterinário e um tratador a tempo inteiro. «No caso do veterinário, não será necessário ter um a tempo inteiro. Virá consoante as necessidades», ilustrou. Já o tratador será o responsável por zelar pelo bem-estar dos animais e administrar-lhes os medicamentos necessários.
Este é um trabalho que Daniel Santos já realiza no PNRF desde há 20 anos, altura em que o centro de recuperação abriu. O Vigilante da Natureza assegura há muito o funcionamento deste centro e pelas suas mãos já passaram milhares de aves, que foram tratadas, recuperadas e libertadas de novo na natureza. «Quando me propuseram vir para aqui, nem pensei duas vezes», diz.
Este filho da Culatra, embora tenha o marisqueio no sangue, desde cedo que começou a nutrir uma paixão por aves, que atinge o expoente máximo no trabalho que faz. Apesar da falta de dinheiro crónica dos serviços do ICNB, consegue manter o centro em funcionamento, arranjando sempre maneira de garantir o alimento e medicamentos aos seus hóspedes.
Por aqui passam aves de todos os tamanhos e qualidades, desde pequenos pássaros até aves de rapina e outras grandes planadoras com um porte e personalidade capazes de meter respeito a qualquer pessoa. É o caso dos muitos grifos, uma espécie de abutre que tem dado trabalho ao centro. «No ano passado, foi muto delicado, pois deram aqui entrada 37 grifos. Este ano já deram entrada 18», contou.
«Recebemos aqui aves vindas de todo o Algarve, do Baixo Alentejo e até de outros pontos do país», contou Daniel Santos. Apesar de haver anos ou períodos em que há predominância de uma certa espécie, como acontece ultimamente com os grifos, tudo funciona «por ciclos». «Em 2003, devido a um surto de botulismo, deram entrada no centro mais de 1200 patos», exemplificou.
Mas a maioria dos hóspedes vão ali parar por situações «causadas pelas migrações» ou «devido a colisões», seja «com viaturas, cabos eléctricos e outros». «Inicialmente, havia um grande problema com as armadilhas, mas conseguimos erradicá-las quase totalmente, da zona de influência do Parque», acrescentou.
«Há uma ideia que apenas aceitamos certo tipo de aves, mas isso não é verdade. Temos aqui gaivotas, rolas, pombos…qualquer animal que venha aqui parar que necessite de ajuda, nós damos», garantiu Daniel Santos. Até uma raposa lá está.
Fonte: Barlavento Online