412: Mosca da fruta ataca Algarve
A mosca da fruta está a atacar os citrinos Algarvios e já estragou 6 mil toneladas de laranja. Especialista afirma ao Observatório do Algarve que o pior ainda pode estar para vir.
A mosca da fruta (ceratitis capitata) “instalou-se” no Algarve e já afectou uma parte da produção da campanha de Verão 2008. Segundo, Amílcar Duarte, professor de Citricultura na Universidade do Algarve, as consequências podem ser mais graves dada a “retirada de produtos [químicos] que estavam homologados para combater a mosca”.
O especialista acrescenta que “o Algarve constitui uma zona crítica para a propagação da mosca da fruta, devido às elevadas temperaturas verificadas na região durante um longo período (Primavera, Verão e Outono) e a Invernos suaves, com temperaturas que permitem a sobrevivência da espécie”.
Amílcar Duarte acredita que a solução pode passar por uma alteração do actual quadro legal.
“Em 2009 a situação será mais grave, dado que, caso não seja alterado o actual quadro legal, só estará homologada uma substância activa”, comenta em relação aos produtos químicos cuja utilização no combate à praga da mosca da fruta está legalizada.
Armadilhas para captura massiva ajudam mas não resolvem
Muitos agricultores estão a optar por fazer frente à propagação da mosca da fruta com a utilização de armadilhas para captura massiva.
Amílcar Duarte explica que se trata de um método muito dispendioso, sobretudo quando aplicado a pequenas parcelas de terreno. Outro factor que aumenta os custos deste método é o facto de ser aplicado em árvores contíguas a pomares abandonados, onde a mosca da fruta se propaga sem o mínimo controlo.
Neste momento, “os pomares do Algarve têm uma enorme população de moscas que continua a causar prejuízos na fruta e que não pode ser controlada com os meios autorizados e disponíveis”, acrescenta prevendo enormes prejuízos na produção das variedades temporãs de citrinos que começariam a ser colhidas em Setembro deste ano.
Praga pode alastrar ao país
A mosca da fruta não é exclusiva dos citrinos. Mais espécies podem vir a ser afectadas, havendo a possibilidade de a praga tomar proporções nacionais.
"Se não conseguirmos conter a mosca da fruta, as populações destas pragas vão crescer de forma geométrica e matar as culturas frutícolas de todo o país", alertou o presidente da União de Produtores Hortofrutícolas do Algarve (Uniprofrutal), Eduardo Ângelo à Agência Lusa.
"A mosca da fruta está para a agricultura como a gripe das aves está para a pecuária", admitiu Eduardo Ângelo, referindo que há 300 espécies de frutas que podem ser afectadas, entre as quais a maçã, a vinha e a pêra.
O responsável defendeu que Portugal e outros países da Bacia Mediterrânica têm de fazer um esforço junto da União Europeia para "reequacionar uma nova forma de luta contra a mosca da fruta", porque não "basta proibir o uso de determinados pesticidas", sustentou.
"Não estamos contra a melhoria das práticas, mas têm de ser acompanhada com a introdução de outras práticas de combate à mosca que sejam sustentáveis e com investigação", adverte o responsável da Uniprofrutal, acrescentando que o sector está "um pouco desprotegido".
DRAPAlg aponta causas
Castelão Rodrigues, responsável pela Direcção Regional da Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPAlg) admitiu à Lusa, por seu turno, que este ano "foi propício ao aparecimento da mosca da fruta" e as causas apontadas são as temperaturas amenas registadas este Verão.
O facto de os agricultores terem deixado até Setembro a fruta nas árvores em vez de as recolherem para as arcas frigoríficas é outra das causas que levou a que cerca de seis mil toneladas de laranja nesta campanha de Verão se estragassem.
"Em Julho e Agosto houve um acréscimo de fruta atacada pela mosca, porque a fruta não foi metida em arcas frigoríficas", mencionou o director da DRAPAlg.
Para combater a praga, Castelão Rodrigues disse que há cerca de um mês os citricultores propuseram um novo pesticida para lutar contra a mosca do Mediterrâneo - Spmozad - e que o Ministério da Agricultura autorizou que fosse aplicado, mas apenas no Algarve.
A gama de pesticidas foi "muito restrita" pela União Europeia, nomeadamente foi proibida desde 2003 a aplicação do Dimitoato, produto que os agricultores aplicavam até à altura na laranja para combater as pragas, explicou Castelão Rodrigues.
A região do Algarve produz cerca de 300 mil toneladas de laranja por ano, mas em 2008 uma parte - cerca de seis mil - ficou estragada devido à mosca da fruta.
Fonte: Observatório do Algarve