321: Turismo de massas acelera avanço do deserto
O alerta vem do ambientalista Eugénio Sequeira, que vê na cultura extensiva de turismo de massas uma das maiores ameaças à sustentabilidade da água no Algarve. Hoje é o Dia Mundial de Luta contra a Desertificação e a Seca.
O especialista, actual presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), assevera que um turista "de pé descalço" consome consome os mesmos recursos e a mesma água do que vários ocupantes de um hotel de cinco estrelas, o que, multiplicado pelos seis milhões de turistas anuais do Algarve, acaba por se tornar num enorme sorvedouro.
“Um turista de bom nível vai ao restaurante e come o seu cherne ou o seu marisco, paga bem, mas acaba por consumir menos recursos do que os turistas que comem no pronto-a-comer e vão ao supermercado”, exemplifica o líder da LPN.
O grande consumo de água dos turistas é o cerne da questão, numa região que está a ficar com menos recursos hídricos em cada ano que passa.
Embora reconhecendo que os turistas com menos recursos também têm direito a férias, Eugénio Sequeira sustenta contudo que eles “não têm o direito de depradar recursos naturais de terceiros países” e acelerar a desertificação. Aconselha-os pois a… irem para fora lá dentro.
Os maiores contributos para a desertificação do Algarve têm sido os fogos dos últimos anos e a má qualidade das regas, factores a que se associa as alterações climáticas, com a concentração da época de chuvas num menor número de meses por ano.
40 mil toneladas de sal no Alqueva
“Por um lado há menos água durante grande parte do ano devido às alterações climáticas, por outro lado ela não fica retida, porque a espessura dos solos é muito pequena no Algarve, o que tem como consequência a rápida secagem dos solos”, sublinha.
A juntar à erosão, o especialista alerta para os riscos da actual destruição do montado, já que o sobreiro é uma árvore resistente ao fogo e com poucas necessidades de água.
A juntar a todos esses riscos, aponta a salinização dos solos, provocada em boa parte pelas regas de má qualidade.
A salinização é um risco que é mais comum no Alentejo, devido à retenção de águas provocada pelas muitas barragens daquela região, que absorvem o saneamento básico de milhões de pessoas. Só no Alqueva, estima, todos os anos são depositadas 40 mil toneladas de sal, já que a barragem recebe os esgotos de 2 milhões de portugueses e espanhóis.
No Algarve o risco é menor porque as chuvas acabam por levar o sal para o mar. Mas o pior são “as regas mal feitas”, como lhes chama Eugénio Sequeira.
Ao contrário do Alentejo, onde a campanha extensiva do trigo levou à acentuação da desflorestação, no Algarve a culpa da desertificação é o regime de pequena propriedade, que impede uma gestão de solos capazes de evitar a erosão e os incêndios, salienta o ambientalista.
“O sal não é retido pelas ETAR [Estações de Tratamento de Águas Residuais] e reentra no ciclo através das regas com águas dessas estações”, explica.
Eugénio Sequeira participa hoje em Faro num seminário que assinala o Dia Mundial de Luta contra a Desertificação e a Seca.
Fonte: Observatório do Algarve