O que começou por ser algumas pinturas isoladas evoluiu para graffiti e agora nem as portas e janelas escapam à onda de vandalismo que cobriu de tinta, de alto a baixo, muitas das carruagens da CP.
Se nas próximas semanas andar de comboio, o melhor será levar livros ou revistas para se entreter, pois a vista de mar a partir das janelas foi agora substituída por manchas cinzentas.
É que a maior parte dos comboios que circulam na linha do Algarve foram vandalizados em toda a extensão e o que dantes eram apenas rabiscos ou assinaturas (também chamadas de tags) foram ampliados para graffiti que não pouparam os vidros, janelas e portas do material circulante.
A situação nem sequer é isolada, já que na carruagem visitada pelo «barlavento», esta semana, eram visíveis sobreposições de pinturas.
Ouvida pelo «barlavento», uma passageira que pediu para manter o anonimato e não ser fotografada, devido ao facto de viajar no comboio todos os dias, diz que agora se sente «mais insegura» ao entrar numa carruagem coberta de tinta.
«Se acontece algum roubo ou uma emergência no interior de uma das carruagens ninguém dá por nada e não há testemunhas porque está tudo tapado», desabafou.
De tal forma assim é que agora os lugares mais disputados são aqueles onde ainda é possível ver uma nesga de paisagem, enquanto se tenta passar o tempo da viagem.
Quem também parece estar incomodado com a situação são os turistas, habituados a desfrutar da linha do Sotavento para observar as paisagens da Ria Formosa, sobretudo entre as estações de Tavira e de Olhão, onde os 15 quilómetros de percurso são paralelos à ria.
Num português arranhado, dois ingleses habitués da região disseram ao «barlavento» que a situação «é uma vergonha» e vão questionando por que não há mais vigilância ou policiamento no interior das carruagens.
Estas foram, aliás, questões que o «barlavento» tentou apurar junto do Gabinete de Comunicação da CP, desde a semana passada, mas não obteve, até ao fecho desta edição, na terça-feira, qualquer resposta útil da empresa.
Comboios vandalizados: Macário Correia quer mais eficácia policial na Linha do Algarve
O presidente da Associação de Municípios do Algarve (AMAL), contactado pelo «barlavento», considera que a situação dos comboios vandalizados na Linha do Algarve está a assumir «proporções graves» e a colocar em causa «a imagem da região», pelo que assegura que vai levar o assunto à próxima reunião da AMAL, esta segunda-feira.
Macário Correia adiantou que irá ser proposto «um apelo insistente» às autoridades policiais para que «identifiquem» e façam as diligências necessárias «para punir os autores deste crimes sobre o património de uma empresa de serviço público».
O presidente da AMAL disse ainda não se ter reunido com a CP este ano, mas vai adiantando que será pedida à transportadora ferroviária uma «limpeza urgente» do material circulante.
Apesar destes actos de vandalismo, Macário não vê razões para que o projecto de instalação do futuro metro ligeiro de superfície do Algarve seja travado.
«Os nossos objectivos e as nossas intenções não podem ser quebradas por um conjunto de vândalos que cometem estes actos», frisou.
Fonte: Barlavento Online