Três dos suicidas ainda estão a monte
Pelo menos três bombistas suicidas pertencentes à célula terrorista desmantelada na semana passada em Barcelona ainda estão a monte – e pretendiam cometer atentados fora de Espanha, revelou ontem fonte ligada à investigação. Recorde-se que logo após a detenção foi emitido um alerta para a possibilidade de ataques terroristas em Portugal, França e Reino Unido, para além de Espanha.
A notícia de que ainda há três terroristas à solta surge na sequência de um esclarecimento das autoridades espanholas. Inicialmente, a polícia afirmou que da célula faziam parte três suicidas, mas posteriormente o procurador-geral espanhol, Cándido Conde-Pumpido, semeou a confusão ao afirmar que havia, pelo menos, seis suicidas. Ontem as autoridades espanholas esclareceram que, na realidade, há seis suicidas – três que foram detidos em Barcelona e outros três cujo paradeiro é desconhecido.
Esta informação foi confirmada pela testemunha protegida que está na origem de todo este processo e que – também contrariamente ao que foi inicialmente afirmado – será um informador dos serviços secretos franceses e não das autoridades espanholas. Este informador disse ainda que os três suicidas que se encontram a monte pretendiam levar a cabo ataques terroristas fora de Espanha, embora não tenha especificado qual seria o alvo. Recorde-se que, dias antes da detenção dos terroristas, os serviços secretos espanhóis informaram as autoridades portuguesas, francesas e britânicas sobre uma ameaça terrorista não especificada. No nosso país, o aviso levou ao reforço da vigilância em pontos sensíveis, ainda por cima depois de se saber que um dos suicidas detidos em Barcelona tinha entrado em Espanha a partir de Portugal.
SEF atento
Entretanto, em declarações à agência Lusa, o director regional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no Algarve, José van der Kel-len, afirmou que a alegada passagem por Portugal de um dos paquistaneses detidos em Barcelona está a ser investigada. Aquele responsável não quis adiantar qual foi a região por onde o suspeito terá passado, limitando-se a dizer que faz parte das atribuições do SEF “saber o que é que os cidadãos de países estrangeiros estão a fazer em território nacional”. Van der Kellen admitiu que Portugal pode ser um “país de trânsito” de terroristas e que, embora tenha existido “algumas movimentações no Algarve”, as mesmas estão “controladas” e a região é segura.
LIDERADOS POR PROFESSOR E COZINHEIRO
A célula terrorista desarticulada em Barcelona era liderada por um professor e um cozinheiro há vários anos radicados em Espanha. Maroof Ahmed, um paquistanês de 39 anos, estava em Barcelona há 12 anos e ensinava o Corão a crianças na mesquita da rua do Hospital, no bairro de El Raval. Já Mohammed Ayub, de 62 anos, está em Espanha há mais de três décadas, grande parte delas passadas a trabalhar como cozinheiro num restaurante da cidade condal. Também de nacionalidade paquistanesa, dedicou-se à oração e ao estudo do Islão após a reforma e era conhecido por repreender publicamente jovens muçulmanos que não frequentavam a mesquita, vendiam cerveja nas ruas ou passeavam com mulheres espanholas. Ambos são seguidores do Tabligh e Jamaa, uma das correntes mais rigorosas do Islão.
SAIBA MAIS
300 é o número de pessoas relacionadas com o terrorismo islâmico detidas em Espanha desde os atentados de 11 de Março de 2004 em Madrid.
14 foi o número de suspeitos detidos na operação do passado dia 18. Quatro foram libertados por falta de provas e os restantes – incluindo os dois líderes da célula e três suicidas – ficaram detidos.
TRANSPORTES
Os terroristas pretendiam atacar o sistema de transportes de Barcelona, numa tentativa de reeditar os ataques de 11 de Março de 2004 em Madrid.
LIGAÇÃO À AL-QAEDA
A célula terrorista recebia ordens directamente da cúpula da al-Qaeda na Paquistão. |
Fonte: Correio da Manhã
Espanha: Célula desmantelada em Barcelona preparava vaga de atentados em países europeus, incluindo Portugal - media
A célula de islamistas radicais desmantelada no sábado passado em Barcelona pretendia cometer uma vaga de atentados suicidas em vários países europeus, incluindo Portugal, escreve hoje o jornal El Pais, citando declarações de uma "testemunha protegida".
Esta testemunha "infiltrada", que fazia parte de um grupo de presumíveis suicidas encarregado de realizar "três ataques" na Espanha, está na origem da operação que conduziu à detenção de 12 paquistaneses e dois indianos, refere o jornal citando fontes da polícia.
Esse indivíduo chegara recentemente a Barcelona de comboio, proveniente da França, para preparar atentados e terá sido a sua denúncia que permitiu desencadear a detenção do grupo de islamistas em Barcelona.
"A testemunha protegida revelou que o grupo era composto por seis suicidas, sendo ele próprio um deles, e preparava três ataques na Espanha e outros na Alemanha, França, Portugal e Reino Unido", escreve o diário espanhol.
O metro de Barcelona era um alvo privilegiado e os explosivos deviam ser transportados em sacos pelos suicidas e accionados à distância por outra pessoa, segundo o jornal.
Estes atentados seriam reivindicados por um ramo da Al-Qaida, através de um líder talibã que se encontra no norte do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão, afirma ainda o jornal baseando-se nas declarações da testemunha.
Segundo um outro jornal, o Diário da Catalunha, a testemunha protegida é uma pessoa infiltrada que trabalha para os serviços secretos franceses.
O ministro do Interior espanhol, Alfredo Perez Rubalcaba, confirmou sexta-feira durante uma conferência de imprensa que uma "testemunha protegida" informou que um atentado estava iminente mas que as provas recolhidas não permitiam confirmar essa afirmação.
Dez dos 14 interpelados no sábado passado foram postos em prisão preventiva.
Também o vice-presidente do Observatório de Segurança, Crime Organizado e Terrorismo disse esta semana que Portugal não é alvo dos ataques terroristas, mas sim um país de trânsito devido à proximidade com Espanha e o Norte de África.
"Não devemos entrar em pânico, nem ter medo, mas realmente Portugal - devido à proximidade com Espanha e Norte de África - deve ter em conta as ameaças", uma vez que "somos um ponto de movimentação", afirmou à Agência Lusa José Manuel Anes, ex-Director do Laboratório de Polícia Científica da Polícia Judiciária.
Também esta semana o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, afirmou hoje que o nível de alerta face a uma ameaça de terrorismo em Portugal mantém-se e escusou-se a revelar se existem no país fundamentalistas islâmicos.
"O nível de alerta mantém-se. Foi essa uma conclusão desta reunião", afirmou Rui Pereira aos jornalistas, no final do plenário do Gabinete Coordenador de Segurança (GCS), que esta semana se reuniu de emergência para fazer o ponto de situação da informação disponível sobre indícios de ameaça terrorista em Portugal na sequência das detenções em Barcelona.
Questionado sobre a presença de uma célula terrorista em Portugal, o ministro sublinhou que "a alegada presença de elementos fundamentalistas islâmicos é objecto de medida das forças de segurança portuguesas que não devem ser reveladas".
A reunião do GCS, em que estiveram presentes também o ministro da Justiça, Alberto Costa, representantes da PSP, GNR, SEF, SIS, PJ, CIRP, Direcção Geral de Autoridade Marítima, Instituto Nacional de Aviação Civil e Autoridade Nacional de Protecção civil, serviu, segundo o ministro, "para garantir uma boa coordenação e uma troca de informações entre os serviços de segurança portugueses e as suas congéneres europeias, nomeadamente a espanhola".
Fonte: LUSA