47: Clima: ONU reconhece que ajuda aos países pobres é insuficiente
Num relatório divulgado ontem, a Oxfam salientou que esta ajuda, de 67 milhões de dólares (45,5 milhões de euros), é “inferior ao que os norte-americanos gastam anualmente em protectores solares”.
Mas Yvo de Boer lembrou, em conferência de imprensa, que os mecanismos de desenvolvimento limpo incluem uma taxa que gera recursos para alimentar o fundo de adaptação. No âmbito destes mecanismos, os países industrializados pagam por projectos que reduzam ou evitem emissões nos países mais pobres e, por isso, são recompensados com créditos que podem usar para atingir as suas próprias metas de emissões.
“A Oxfam tem razão, de momento não há dinheiro suficiente para a adaptação”, admitiu Yvo de Boer.
Os representantes de cerca de 190 governos estão reunidos em Bali, Indonésia, até 14 de Dezembro para traçar um roteiro de negociações sobre o sucessor do Protocolo de Quioto, que termina em 2012.
Japão e Canadá acusados de travarem obrigatoriedade de redução de emissões
Hoje à margem da conferência em Bali, várias ONG criticaram o Japão e o Canadá por dificultarem as negociações sobre reduções obrigatórias de emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
“Estamos um pouco preocupados com a posição do Japão e do Canadá. As suas propostas não reforçam os fundamentos do Protocolo de Quioto”, disse Angela Ledford Anderson, da ONG americana National Environment Trust.
Anderson contou que a delegação canadiana em Bali fez saber que se foram adoptadas as reduções de emissões, elas devem abranger todos os países. Quioto apenas impõe reduções para os países industrializados.
A ambientalista salientou ainda que a delegação japonesa sugeriu um sistema onde os países se comprometam com um princípio voluntário de redução de emissões.
Stephan Singer, da WWF, também está preocupado com as posições do Japão.
A organização Greenpeace acusou o Governo canadiano de fazer “campanha de desinformação e sabotagem sobre o Protocolo de Quioto”.
Ontem, o Japão recebeu o prémio “Fóssil do dia”, atribuído por jovens activistas da Rede de Acção para o Clima. As propostas japonesas “matariam” o Protocolo de Quioto se fossem adoptadas em Bali, consideram. O Canadá recebeu o terceiro prémio, juntamente com os Estados Unidos.
Hoje, o prémio foi para a Arábia Saudita pelas suas declarações, segundo as quais Quioto concentra-se “de forma injusta no dióxido de carbono”.
Ilhas dizem que estão condenadas a desaparecer
“Emigrar é a nossa única forma de sobreviver. Vamos perder a nossa identidade mas não temos outra escolha. As ilhas estão condenadas a desaparecer”, alertou Ursula Rakova, das ilhas Carteret, na Papuásia-Nova Guiné.
Para os habitantes do oceano Índico e do Pacífico, a subida do nível médio da água do mar já tem consequências visíveis, com lençóis freáticos contaminados e culturas perdidas.
“Para os nossos habitantes das ilhas Kiribati, a terra é muito importante”, salientou Tangaroa Arobati, vindo destes atóis do Pacífico onde vivem 92.500 pessoas.
Nas ilhas Carteret uma ilha já foi separada em duas pelo avanço do mar, contou Rakova. Os residentes, privados de meios de subsistência, foram obrigados a partir para a ilha principal da Papuásia-Nova Guiné.
“Eles debatem as alterações climáticas como se fosse qualquer coisa que poderá acontecer num futuro longínquo, em 2020, 2050 ou 2100”, comentou Tony Mohr, da ONG Australian Conservation Foundation. “Mas as comunidades do Pacífico já as estão a viver”.
Estas ilhas pediram ajuda internacional e incitaram os delegados em Bali a agir para que o número de “refugiados do clima” não aumente exponencialmente.
“Se isto continuar, talvez sejamos abandonados com três coqueiros num pedaço de terra. Onde está o nosso futuro?”, perguntou Arobati.
Fonte: Publico