A construção de um campo de esporões na parte oceânica da ilha de Faro, prevista no Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), vai pôr em risco de desassoreamento grande parte da Ria Formosa, alerta o especialista em erosão costeira Alveirinho Dias.
Em declarações ao Observatório do Algarve, o professor universitário garante: com toda a probabilidade, nos próximos 50 anos o mar passará por cima da península, devido ao inexorável recuo da linha costeira.
Mas a grande batalha de Alveirinho Dias – que nos últimos meses se tem dedicado a estudar a dinâmica costeira em toda a península do Ancão – é a “teimosia humana” segundo a qual basta construir alguns esporões na praia de Faro para travar a abalada de areias.
“A construção de esporões, tal como está prevista no POOC, pode resolver temporariamente alguns problemas na zona de construção mas vai colocar em risco toda a Ria Formosa, a nascente da Península do Ancão, até ao Barril”, sustenta.
O fenómeno será idêntico ao que ocorreu nas últimas décadas devido à construção dos esporões de Quarteira, que aceleraram o desassoreamento na Praia de Faro, acentua Alveirinho Dias, observando que não adianta “chutar para oeste” os problemas.
“O problema é que as pessoas pensam só no curto prazo e acham que a engenharia, só por si, consegue resolver tudo”, lamenta, numa crítica implícita aos políticos que, nas últimas décadas, têm vindo a defender a construção de um campo de esporões e conseguiram que essa solução passasse a letra de lei, no POOC Vilamoura/Vila Real de Santo António, que entrou em vigor recentemente.
Sobre a ponte da praia de Faro – que numa recente entrevista à Lusa o presidente da Câmara de Faro, José Apolinário, reconheceu precisar de uma intervenção urgente -, Alveirinho Dias defende o aumento da sua extensão, para obviar a que as correntes acentuem a erosão da estrutura.
“Não sei se a ponte está em risco, não vi as fundações, e isso é um problema clássico de engenharia, mas a dificuldade é que para fazer a ponte há um aterro e a corrente, muito forte naquela zona, é canalizada para aí, causando a erosão dos alicerces e da margem em que assenta a estrutura”, alerta.
Segundo Alveirinho Dias, o recuo da linha de costa é inexorável e o estudo que coordenou recentemente na Universidade do Algarve sustenta que os recuos do litoral se acentuam após a ocorrência de episódios de galgamento da ilha de Faro durante temporais.
Com a previsível elevação do nível do mar, esses fenómenos terão tendência a aumentar, o que trará como consequência o avanço do mar e a degradação do areal devido ao arrastamento das areias.
Fonte: Observatório do algarve