2465: Comerciantes de Albufeira querem sair da cidade
Um mês após as cheias em Albufeira, é visível o esforço que tanto empresários como a autarquia empenham para regressar à normalidade e reabrir rapidamente os espaços comerciais, mas também há quem tenha perdido a esperança.
“Quero vender isto tudo para me ir embora, porque não quero ficar sujeito a que me aconteça a mesma coisa para o ano outra vez”, disse à Lusa João Santiago, 67 anos, que colocou a loja de louças, artesanato e artigos de praia que gere há 37 anos em liquidação total.
Virgílio Costa, que inaugurou o seu restaurante na baixa de Albufeira há pouco mais de um ano, reabriu há cerca de duas semanas após trabalhos intensos de limpezas e de recuperação de material.
Aquele comerciante anseia pela abertura dos estabelecimentos dos seus vizinhos e pela recuperação urbana para que o movimento possa começar a regressar à normalidade, uma vez que os turistas não são muitos e, segundo diz, são desincentivados pelos hotéis a irem até à baixa.
Sem o estabelecimento segurado, Virgílio Costa aguarda por resposta do fundo municipal enquanto Augusto Graça, cuja loja de vinhos, tabacos e revistas ficou muito danificada quando a água atingiu um metro e meio de altura, aguarda resposta da seguradora.
Sem equipamentos e mobiliário e com um “stock” reduzido que foi recuperado, este comerciante espera poder reabrir em meados de fevereiro.
O gabinete de emergência da autarquia continua a atender os comerciantes que apresentam pedidos de apoio e o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Carlos Silva e Sousa, contou que existem situações muito complicadas.
Em entrevista à Lusa, Carlos Silva e Sousa afirmou estarem em curso várias obras de recuperação da área urbana, onde se inclui a retirada de lamas de zonas subterrâneas, e também alguns trabalhos em ribeiras e barrancos que ficaram destruídos pelo temporal.
Aquele responsável municipal aponta para que cerca de 70% dos trabalhos de reabilitação urbana estejam já cumpridos.
Vincando que dada a dimensão dos danos no concelho, foi dada prioridade a estes trabalhos, Carlos Silva e Sousa pretende que a baixa comercial de Albufeira tenha a maior parte dos seus estabelecimentos abertos pelo Natal e pela passagem de ano, estando já em curso um reforço das iluminações natalícias.
“Estamos a equacionar várias possibilidades, quer de drenagem urbana quer de retenção a montante de águas, mas naturalmente isso vai ter de ser feito por especialistas”, referiu Carlos Silva e Sousa sobre um trabalho futuro para a prevenção de novas inundações.
A Associação de Comerciantes da Região do Algarve (ACRAL) está a negociar com as autoridades competentes a abertura excecional para Albufeira da medida de apoio “Comércio Investe”, onde os comerciantes podem obter apoios com cerca de 45% a fundo perdido. O apoio resulta de uma taxa aplicada às grandes superfícies como forma de minimizar o impacto das mesmas no comércio local.
“No fundo, era abrir temporariamente essa medida para Albufeira no sentido de poder trazer algum desafogo às empresas”, explicou o presidente da ACRAL, Vitor Guerreiro.
Quanto ao balanço do trabalho realizado no último mês naquele concelho algarvio, Vitor Guerreiro diz que este é feito de uma série de prejuízos, do trabalho feito para que as empresas reabram e também de muitas promessas do Governo e de outras entidades que até ao momento não se concretizaram.
A região do Algarve foi fustigada no dia 1 de novembro por chuvas intensas que provocaram inundações em vários concelhos, nomeadamente em Loulé, Albufeira, Portimão, Olhão e Silves.
O caso mais problemático deu-se em Albufeira, onde a Proteção Civil teve que retirar pessoas de habitações e estabelecimentos comerciais inundados.
No centro da cidade de Albufeira, a água atingiu cerca de 1,80 metros de altura, provocando milhões de euros de prejuízos, segundo as autoridades, sendo que muitos dos comerciantes não tinham seguros.
As cheias provocaram também um número indeterminado de desalojados em Albufeira.
Fonte: CM