Um inquérito divulgado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, esta sexta-feira, revela que "a perceção do risco de tsunami em Portugal é muito baixa, mesmo para as pessoas que habitam nas zonas costeiras ou em estuários". "No entanto, a possibilidade de acontecer um tsunami é real", alertam os autores do estudo académico, José Manuel Mendes e Susana Freiria.
O Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra inquiriu 1200 cidadãos residentes em Portugal, 74% dos quais em freguesias costeiras, tendo-os questionado sobre a possibilidade de o país ou o seu local de residência serem atingidos por 28 tipos de riscos. E o risco de tsunami ficou em último lugar, atrás dos riscos de rotura de barragens, acidentes aéreos, epidemias ou contaminação do mar, revela o relatório final do trabalho.
Os inquiridos da Área Metropolitana de Lisboa e do Algarve, duas zonas onde a costa reúne condições físicas para a ocorrência deste fenómeno, foram aqueles que manifestaram maior preocupação com os tsunamis. Mas, mesmo aí, a perceção do risco é "baixa", concluem os investigadores.
A situação apontada como mais "preocupante" é a dos residentes na Península de Setúbal, pois trata-se de "uma das áreas com um dos níveis de suscetibilidade mais elevados do país, onde a perceção de risco é quase insignificante". "Esta situação exigirá no futuro um plano de comunicação do risco de tsunami especificamente orientado para esta região", defendem os investigadores do CES.
À pergunta sobre a possibilidade de as zonas costeiras que frequentam, nomeadamente em férias, serem atingidas por um tsunami, 82% responderam negativamente. Daqueles que responderam afirmativamente, mais de metade afirmou ter tomado consciência daquele risco depois de 2004, quando aconteceu um grande tsunami no oceano Índico, com consequências devastadoras.
O CES reconhece que, na última década, tem-se verificado um esforço por parte dos agentes de planeamento e proteção civil no sentido de prevenir o risco de tsunami. No entanto, os estudos de risco realizados têm-se concentrado "na perigosidade e nos elementos expostos, deixando para segundo plano a vulnerabilidade da população", observam José Manuel Mendes e Susana Freiria.
Os tsunamis ocorridos em Portugal foram, "na sua maioria, causados por sismos submarinos gerados na complexa fronteira de placas tectónicas que vai desde as ilhas dos açores até ao estreito de Gibraltar", afirma o estudo do CES, acrescentando que as áreas mais expostas àquele risco são o Algarve - nomeadamente, Sagres e a Costa Vicentina -, a Área Metropolitana de Lisboa e a costa Oeste até Peniche.
Os investigadores afirmam que, hoje em dia, as falhas que podem gerar grandes tsunamis em Portugal e no Atlântico Noroeste já estão "bem identificadas": a falha do Marquês de Pombal (FMP); a falha da Ferradura (FF); as falhas do Banco de Portimão (FBP); a falha do Banco de Gorringe (FBG); e a falha da Planície Abissal do Tejo (FPAT).
No entanto, lembram que, em 1531, Santarém e Lisboa foram afetadas por um grande sismo e também tsunami que, segundo se crê, foram gerados numa estrutura "ainda mal conhecida", a Falha do Vale Inferior do Tejo (FVIT).
A maioria dos tsunamis é provocados por sismos submarinos, mas alguns também resultam de erupções vulcânicas e deslizamentos de terra.
O relatório do CES explica ainda que o tsunami consiste numa série de ondas com um comprimento muito longo (distância entre duas cristas ou dois vales seguidos), chegando a atingir os 100 quilómetros. "À medida que as ondas se vão aproximando da costa, o comprimento diminui e a altura aumenta.
Enquanto em águas profundas a altura pode ser inferior a um metro, na costa a altura da onda pode chegar aos 30 metros, o que é um sinónimo de grande potencial destruidor, ao atingir a costa", lê-se no relatório.
Fonte: JN