Portugal enfrenta um número crescente de tornados. Só nos últimos quatro anos, foram registados 27 fenómenos atmosféricos que, devido à força do vento, provocaram avultados danos. Os quatro temporais mais destrutivos neste período, todos eles ocorridos nos últimos três meses do ano, provocaram cerca de cem milhões de euros de prejuízos e meia centena de feridos.
Para o meteorologista Manuel Costa Alves, a ocorrência de 27 destes fenómenos atmosféricos em quatro anos é um indício para uma possível maior frequência. Contudo, defende, "será necessário da parte do Instituto de Meteorologia fazer um levantamento para se verificar essa realidade".
O meteorologista sublinha que enquanto exerceu funções na Protecção Civil realizou um levantamento dos tornados ocorridos entre 1985 e 1999, tendo verificado 30 situações nesses 15 anos. "O ano marcante foi 1996, em que se verificaram 10 ocorrências", disse. Depois da sua saída , este levantamento pode não ter tido continuidade. O CM questionou o Instituto de Meteorologia sobre a existência de registos da quantidade de tornados em Portugal, não tendo sido, contudo, facultada a informação.
Num cruzamento do seu levantamento com o relatório da organização alemã não governamental European Severe Wheather Database, Costa Alves conclui que a maioria dos 88 tornados registados desde 1932 em Portugal ocorreu desde 1985.
O meteorologista considera que os dois últimos meses do ano são os mais propícios à ocorrência destes eventos. O tornado mais destrutivo aconteceu a 6 de Novembro de 1954, em Castelo Branco, tendo provocado cinco mortos e 200 feridos. Costa Alves explica que alguns destes temporais, identificados pelos populares como tornados, podem na verdade ser ‘downbursts’, ou seja, temporais caracterizados por um forte movimento do vento de cima para baixo, que provoca igualmente destruição.
"INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO GLOBAL": Manuel Costa AlvesMeteorologista
Correio da Manhã – O aquecimento global tem influência sobre o número de tornados registados em Portugal?
Costa Alves – Possivelmente o aquecimento global tem impacto, não no aumento da frequência, mas sim na intensidade dos tornados.
– Portugal é um país exposto à formação de tornados?
– Não. Poderá haver uma média de três por ano, desde que há registo. Ou seja, uma baixa frequência, e são de fraca intensidade.
– Há capacidade tecnológica para prever um tornado?
– A capacidade é mínima, mesmo com recurso a radares meteorológicos. Mas com a formação adequada é possível prever, embora a possibilidade de se confirmar a sua ocorrência seja de apenas 25%.
NOVEMBRO MUITO CHUVOSO NÃO AFASTA SECA NO NORTE
O mês de Novembro foi classificado pelo Instituto de Meteorologia como chuvoso a muito chuvoso, com valores de precipitação de 143 litros por metro quadrado, quando o normal dos últimos 20 anos nesta época do ano é de 109 litros. Contudo, em algumas regiões a quantidade de precipitação permanece insuficiente, pelo que não foram ainda afastados os riscos de seca do último Verão.
Áreas do Douro Litoral, Trás--os-Montes e Baixo Mondego, que no conjunto englobam 14% do território, permanecem em situação de seca fraca. O resto do País atingiu no último mês uma situação de normalidade ou mesmo de valores de acumulação de precipitação acima do normal para esta época do ano, sendo os casos mais expressivos observados nos distritos de Lisboa e de Castelo Branco.
Reflexo da fraca precipitação a norte é o valor baixo de armazenamento nas albufeiras de algumas barragens. O caso mais expressivo ocorre no Minho, na barragem do Alto Lindoso, que regista apenas 22% da sua capacidade máxima, quando o habitual nos últimos 20 anos é de 60%. Diferente é, por exemplo, a barragem do Alqueva, que contabiliza 83% da capacidade máxima de armazenamento.
Além de chuvoso, Novembro foi um mês frio. A temperatura média foi mais baixa do que a média dos últimos 20 anos em 0,8 graus. O valor mais baixo ocorreu na serra da Estrela, no dia 28: os termómetros desceram aos 3,6 graus negativos.
Fonte: CM